*José Manoel Ferreira Gonçalves
[Candidato a prefeito do Guarujá, pelo PSol]
Um Marco na Luta pela Moradia
A recente vitória de Israel dos Santos, um caiçara que vive há mais de quatro décadas nas margens da Rodovia Ariovaldo de Almeida Vianna, é emblemática na defesa do direito à moradia das comunidades tradicionais do litoral paulista. Após uma longa batalha judicial, Israel garantiu seu direito de permanecer em sua casa, um desfecho que simboliza a resistência das populações tradicionais diante das crescentes pressões urbanas e imobiliárias. Essa decisão não é apenas uma vitória individual, mas um passo significativo para o reconhecimento dos direitos coletivos dos caiçaras todos, tantas vezes negligenciados em nome do desenvolvimento.
O caso de Israel ilustra uma disparidade flagrante no tratamento dado pelo Estado às comunidades tradicionais e aos grandes empreendimentos. Enquanto os caiçaras enfrentam ações demolitórias, marinas e condomínios de luxo, que também ocupam áreas semelhantes, recebem um tratamento preferencial, sob o pretexto da preservação ecológica. Essa abordagem desigual ameaça não apenas a moradia, mas a própria cultura caiçara, que contribui para a preservação ambiental e a identidade cultural da região (Diário do Litoral) (Le Monde Diplomatique).
O Papel Decisivo da Justiça
A ação judicial movida pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) contra Israel dos Santos é representativa das pressões que essas comunidades sofrem. A decisão favorável, que garantiu a Israel e sua família o direito de permanecer em sua casa, baseou-se no reconhecimento da posse pacífica do imóvel por quase 50 anos, bem como na ausência de impacto negativo na rodovia administrada pelo DER. A Justiça, nesse contexto, desempenhou um papel crucial na proteção de um direito fundamental, garantindo que as decisões legais considerem as peculiaridades e os direitos sociais dessas populações (Diário do Litoral).
Essa vitória tem um efeito potencialmente multiplicador, podendo influenciar outros casos semelhantes e fortalecer as reivindicações das comunidades caiçaras. Em um cenário onde o direito à moradia é frequentemente ameaçado, a Justiça aparece como uma importante aliada na defesa dos mais vulneráveis, assegurando que os direitos garantidos pela Constituição sejam aplicados de forma equitativa.
Desigualdade e a Necessidade de Políticas Públicas
A situação dos caiçaras na região da Rodovia Ariovaldo de Almeida Vianna reflete uma desigualdade estrutural na gestão territorial. A municipalização da rodovia, que está em discussão, poderia ser uma solução eficaz para garantir que as decisões sobre o uso do solo sejam mais justas e alinhadas com as necessidades das comunidades locais. Uma gestão mais próxima permitiria uma abordagem mais sensível às questões culturais e ambientais, essencial para a preservação do modo de vida caiçara.
O caso de Israel dos Santos não é isolado. Em outras regiões, como na Jureia, as comunidades enfrentam desafios semelhantes, com ameaças de remoção e destruição de suas casas em nome da preservação ambiental. No entanto, decisões judiciais recentes têm começado a reconhecer a importância dessas comunidades para a manutenção dos ecossistemas locais, sublinhando a necessidade de políticas públicas que respeitem e protejam os direitos territoriais e culturais dos caiçaras (Le Monde Diplomatique).
Um Precedente para o Futuro
A vitória de Israel dos Santos estabelece um precedente importante na defesa dos direitos das comunidades caiçaras. O reconhecimento judicial de seu direito à moradia não só assegura a continuidade de seu modo de vida, mas também envia uma mensagem clara sobre a importância de proteger as comunidades tradicionais contra as pressões do mercado imobiliário. Esta decisão pode inspirar outras comunidades a reivindicarem seus direitos e buscar justiça frente às adversidades.
O futuro das comunidades caiçaras depende da combinação de decisões judiciais justas, políticas públicas inclusivas e um compromisso contínuo com o reconhecimento de seu valor cultural e ambiental. A luta pela preservação da cultura caiçara é, em última análise, uma luta pela justiça social e pela proteção de um patrimônio que enriquece a identidade brasileira.
Quem é José Manoel?
José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública.
Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá.
Em 2024, José Manoel concorre à Prefeitura de Guarujá, a cidade que o acolheu e que ele defende com incansável dedicação.