José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Promessas Governamentais Frente à Crise Costeira
O avanço do mar e as ressacas frequentes têm se intensificado ao longo do litoral paulista, trazendo à tona a fragilidade das políticas públicas e das promessas governamentais. Enquanto prefeitos e autoridades ambientais se esforçam para anunciar medidas como construção de barreiras de contenção, reforço da drenagem e campanhas de conscientização, a realidade aponta para um panorama bem mais complexo.
No Guarujá, por exemplo, foram instalados “bagwalls” (estruturas de sacos de areia) para conter a erosão, enquanto em Santos há um plano de reurbanização costeira com foco na preservação das praias. Porém, a efetividade dessas soluções tem se mostrado frágil. Essas iniciativas, embora importantes, têm caráter paliativo. O mar continua avançando, e sem ações estruturais robustas e políticas de adaptação a longo prazo, a natureza vai simplesmente vencer o esforço humano.
Quando as Verdades Governamentais Não Bastam
Muitos governos locais justificam a lentidão nas respostas pela falta de recursos ou pela complexidade do problema, mas há também um componente de falta de prioridade. Obras de infraestrutura que evitariam o agravamento da erosão são adiadas, enquanto discursos inflamados são propagados como soluções definitivas.
Além disso, não há como ignorar que, mesmo que essas ações sejam plenamente implementadas, elas ainda seriam insuficientes para conter um problema enraizado nas mudanças climáticas globais. O aquecimento dos oceanos e o derretimento das calotas polares aumentam o nível do mar, exacerbando os efeitos das ressacas e da erosão costeira. Este é um problema de escala planetária que exige esforço conjunto, mas que muitas vezes não recebe a atenção devida nos planos locais.
Aquecimento Global: O Verdadeiro Vilão
O avanço do mar não é um problema isolado ou meramente natural; ele é sintoma de uma doença maior: o aquecimento global. A emissão desenfreada de gases de efeito estufa, especialmente por grandes indústrias dos países desenvolvidos, é o motor dessa crise. E, enquanto as emissões continuarem em ritmo alarmante, medidas locais no litoral paulista terão a mesma eficácia de se enxugar gelo.
É preciso que cada cidadão compreenda sua responsabilidade individual, reduzindo emissões no dia a dia, mas, acima de tudo, pressionando os maiores emissores — governos e grandes corporações — a mudarem suas práticas. Políticas de mitigação, como a transição para energias renováveis e a redução de combustíveis fósseis, devem ser exigidas com urgência.
Ação Coletiva para um Futuro Costeiro Sustentável
A luta contra o avanço do mar e as ressacas frequentes não pode ser apenas tarefa dos governos locais. Todos têm um papel a desempenhar: seja votando em líderes comprometidos com a agenda climática, cobrando mudanças nas grandes indústrias, ou até mesmo adaptando os próprios hábitos para uma vida mais sustentável.
Enquanto continuarmos ignorando o elefante na sala — o aquecimento global —, as praias de São Paulo e de todo o mundo estarão condenadas. A hora é de agir, com urgência e consciência.