*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Transparência ou teatro de vingança?
Desde que assumiu a presidência do Conselho Deliberativo, em nenhum momento Romeu Tuma Júnior tentou rever as finanças e gastos do Corinthians realizados pelas gestões anteriores. Nos 17 meses em que preside este órgão, votou todo seu empenho e seu capital social no sentido de atacar Augusto Melo e seus aliados, visando destituí-los dos cargos para os quais foram democraticamente eleitos.
Paralelamente, a própria presidência admite o “desaparecimento” de documentos que permitiriam contextualizar gastos de gestões anteriores — uma cortina de fumaça conveniente que desloca o foco do debate.
Currículo e ascendência sob sombras
Herança do Dops — Filho do senador e delegado Romeu Tuma, diretor do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) entre 1966 e 1983 — período marcado por prisões, torturas e desaparecimentos na ditadura militar —, Tuma Jr. carrega um legado pesado. Há relatos de que o pai participou diretamente de operações repressivas e da ocultação de cadáveres de presos políticos.
Trajetória policial‑política — Delegado de carreira, Tuma Jr. ganhou projeção ao chefiar a fase inicial da investigação do assassinato de Celso Daniel, sustentando publicamente a tese de crime político sem apresentar prova conclusiva. Em 2007, tornou‑se secretário nacional de Justiça; três anos depois, foi exonerado sob acusação de ligação com Li Kwok Kwen (“Paulo Li”), apontado pela PF como chefão da máfia chinesa de contrabando.
Livro de denuncismo — Fora do governo, publicou Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado, obra de forte viés sensacionalista que mistura insinuações sem lastro documental e denúncias contra o PT. Críticos classificam o texto como peça de retaliação política, mais próxima de um libelo pessoal do que de investigação séria.
Vingança disfarçada de justiça
No Corinthians, o autoproclamado paladino da ética limita sua lupa ao ano de 2020, ignorando gestões que geraram dúvidas mais contundentes na auditoria interna. A escolha unilateral reforça a percepção de uso instrumental do cargo — elemento típico de “justicialismo” personalista. Enquanto isso, denúncias internas sobre furtos de arquivos permanecem sem sindicância ampla, apesar de Tuma Jr. ter toda a estrutura do conselho à mão.
Quando Paulo fala de João…
Vozes do parque São Jorge lembram que o conselheiro teve desempenho pífio nas últimas eleições internas, sofrendo rejeição nas arquibancadas — resultado que ele tenta reverter com gestos midiáticos. Ao erigir‑se em guardião da moral, repete o script familiar de usar a instituição pública (antes o Dops, agora o Corinthians) para projetar poder e retaliar desafetos.
O clube como palco pessoal
A história recente do Corinthians mostra que transparência só é legítima quando universal. Se a investigação permanecer cingida a um recorte conveniente, corre‑se o risco de perpetuar o ciclo de “dono do cofre” contra “opositor da vez” — exatamente o que a torcida, apaixonada e plural, não merece. A ética, para ser ética, não pode ter sobrenome nem alvo predeterminado.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.
Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas de veículos como Meu Timão, CNN Brasil, Gazeta do Povo, Veja, UOL, Folha de S.Paulo, Memórias da Ditadura e registros públicos referentes a Romeu Tuma Jr. e Romeu Tuma.”