Túnel pode limitar crescimento do Aeroporto de Guarujá (SP), confirma FAB

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los Ratton/ÁguaViva/ Rebeca Ligabue (Metrópoles) – 29/10/2025

A Força Aérea Brasileira (FAB) confirmou que o túnel Santos-Guarujá (SP), no traçado atual, pode limitar futuras ampliações da pista do Aeroporto de Guarujá, dificultando a operação de aeronaves maiores e exigindo ajustes no projeto para evitar impactos negativos. As informações são da Associação Água Viva (ÁguaViva), que havia alertado a situação há 17 meses. Uma reportagem recente foi publicada pela jornalista Rebeca Ligabue, do Metrópoles.

Entre os pontos destacados pela FAB estão o conflito de traçado. O túnel interfere na área de aproximação de uma das cabeceiras da pista. Também a restrição à expansão. A pista poderia ser ampliada em até 200 metros, mas o traçado atual impede essa extensão e o impacto futuro, caso seja necessário recuar a cabeceira da pista, algumas aeronaves podem deixar de operar no aeroporto.

Os conflitos mencionados foram confirmados recentemente, numa audiência pública na Câmara dos Deputados, pelo brigadeiro Steven Meier, subdiretor de engenharia da Aeronáutica.

Ele revelou que, no projeto atual, a construção cruza parte da área da Base Aérea de Santos. “Do jeito que foi concebido, traria alguma limitação para a pista, no momento em que ele se tornaria um obstáculo para a aproximação de uma das cabeceiras”, disse o Meier na Comissão de Viação de Transportes.

Segundo o brigadeiro Meier, o túnel limitaria futuras ampliações da pista, atualmente com 1.390 metros, que poderia ser estendida em até 200 metros para receber aeronaves maiores. De acordo com o oficial da FAB, para evitar o impacto, é preciso, desde já, ajustar o traçado do túnel, por meio de alteração do percurso.

“Não chega a inviabilizar a operação, mas, se houver a necessidade de recuar a cabeceira, algumas aeronaves deixariam de operar”, avaliou o militar. “É estratégico e tem de ser pensado agora, já na fase de elaboração do projeto, para que o túnel não gere impacto no aeroporto. Acho que, se isso for bem planejado, uma coisa vai somando com a outra e gerar desenvolvimento para a região”, completou.

Conforme a análise de Meier, se todas as partes envolvidas nos dois projetos discutirem conjuntamente o projeto do túnel o quanto antes, evitariam, assim, conflitos no futuro. Para o brigadeiro, há alternativa que não envolve custo adicional. Na Câmara, ele exibiu uma apresentação que detalha a sugestão.

“A proposta que estamos fazendo para, uma vez cedida a área, é de que se implante uma nova via de acesso à base e também um novo terminal portuário. Ambas as obras, tanto a nova via de acesso como o terminal portuário, fazem parte das contrapartidas da própria cessão da área.  Ou seja, Ministério dos Portos e Aeroportos e Prefeitura do Guarujá não precisarão arcar com nenhum custo adicional para a realização dessas obras”, enfatizou o militar.

“A grande vantagem que eu enxergo é que o acesso a esse terminal portuário se dará de uma forma completamente independente do acesso à Base Aérea de Santos. Vai agilizar esse trânsito e facilitar o embarque e desembarque de passageiros”, recomendou.

Representante da Prefeitura de Guarujá, Thaís Margarido Alencar destacou que a Infraero, prestadora de assessoria por meio de um contrato com a gestão municipal, já havia feito algumas recomendações de adequações no aeroporto.

Presidente

O presidente da Água Viva, engenheiro e advogado José Manoel Ferreira Gonçalves, em seu artigo “Mais Aeroportos Regionais no Brasil”, havia alertado as nove subseções da Ordem dos Advogados do Brasil da Baixada Santista, reforçando a necessidade de acompanhamento técnico e fiscalização cidadã das obras.

“Projetos de infraestrutura de grande porte devem sempre considerar a possibilidade de expansões futuras de aeroportos e o impacto sobre a operação segura das aeronaves. Ignorar isso hoje pode comprometer o desenvolvimento regional amanhã”, afirmou José Manoel Ferreira Gonçalves.

O engenheiro destacava a importância do planejamento estratégico e localização: escolher locais que considerem riscos geográficos e climáticos; Infraestrutura flexível e adaptável: projetar aeroportos que permitam expansões e modificações futuras e Coordenação e políticas públicas: alinhar investimentos e obras para não comprometer o desenvolvimento futuro de aeroportos.

O alerta reforça a necessidade de planejamento integrado, fiscalização técnica e participação da sociedade civil em projetos de infraestrutura aeroportuária, garantindo que obras estratégicas como o túnel Santos-Guarujá não restrinjam o potencial de crescimento do Aeroporto de Guarujá.

Aeroporto

A previsão é que o aeroporto comece a operar ano que vem. Ele está sendo implantado na Base Aérea de Santos, que fica em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá e as obras foram divididas em três fases, sendo a primeira finalizada no primeiro semestre de 2025.

Além da pista de pouso e decolagem, foram inauguradas as intervenções nas pistas de táxi A, B e C; uma faixa de pista e sistema de drenagem; a implantação da cerca operacional e barreiras de proteção da fauna. No total, a Prefeitura de Guarujá investiu cerca de R$ 24,1 milhões nesta primeira etapa.

Ainda no primeiro semestre, foi oficializada a ordem de serviço para o início das obras da segunda fase pela Prefeitura da cidade e o Ministério de Portos e Aeroportos, que compreenderá a implantação do terminal de passageiros e áreas de circulação interna e externa, além das salas de embarque e desembarque, saguão, banheiros e balcões de check-in. A previsão de conclusão é para o final de 2025.

O terminal em questão, segundo a gestão municipal, será provisório, com uma estrutura modular composta por 21 peças, e ocupará uma área de cerca de 302 metros quadrados. A previsão é de que o terminal consiga receber 24 passageiros simultaneamente. O projeto é orçado em R$ 2,7 milhões.

Já a terceira fase, que deve começar em agosto deste ano e ser entregue nos primeiros meses de 2026, envolve a reestruturação das vias de acesso ao futuro aeroporto, contemplando um trecho de aproximadamente três quilômetros. O asfalto, as guias e as sarjetas antigas serão retiradas e, a partir disso, serão instaladas novas pavimentações. O valor estimado para essa parte da obra é de R$ 7 milhões.

Após o final das obras, o aeroporto ainda deve passar pelo processo de homologação junto aos órgãos competentes, quando se tornará apto para receber voos comerciais.

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