*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Reação em cadeia no cenário paulista
A crise institucional em São Paulo ganhou um novo capítulo com o pedido de impeachment protocolado pela deputada estadual Ediane Maria (PSOL-SP) contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O episódio, deflagrado em 8 de julho de 2025, teve como estopim uma publicação nas redes sociais do governador, replicando uma declaração de Donald Trump em apoio a Jair Bolsonaro, desautorizando o Judiciário brasileiro.
A mensagem dizia que o ex-presidente “deveria ser julgado apenas pelo povo, durante as eleições”. Para Ediane, tal atitude representa uma ruptura grave com os princípios constitucionais e uma tentativa de corroer a legitimidade do Supremo Tribunal Federal — o que, na avaliação da parlamentar, configura crime de responsabilidade.
Tecnologia, responsabilidade e Estado democrático
A acusação ganhou força entre setores do meio jurídico. Juristas como o desembargador Alfredo Attié defenderam que o gesto de Tarcísio representa afronta à ordem constitucional e à soberania nacional. Na visão desses especialistas, o uso das redes sociais por figuras públicas deve obedecer limites institucionais claros, pois extrapolar esse campo pode ser interpretado como tentativa de manipular o debate público por meios informais — ou até de minar os alicerces do Estado democrático de direito.
O pedido de Ediane segue em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Alesp, ainda sem relator definido, mas já provocando intensa movimentação entre parlamentares e representantes da sociedade civil. O debate jurídico é acalorado, mas já há vozes relevantes apontando para a possibilidade concreta de abertura do processo.
Aliado de Lula, França entra na arena
Do lado político, o ministro do Empreendedorismo e ex-governador Márcio França (PSB) também se manifestou de forma contundente. Em 10 de julho, França pediu publicamente a renúncia de Tarcísio, destacando o “alinhamento ideológico irresponsável” do governador com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump. A crítica ganhou força após Trump anunciar um aumento tarifário de 50% sobre produtos brasileiros, medida que atingiria diretamente a economia paulista.
França foi direto: para ele, o gesto do governador prejudica setores estratégicos como a produção de café, cana-de-açúcar e suco de laranja, colocando em risco a cadeia exportadora do estado. Para o ex-governador, isso por si só já justificaria o afastamento do atual mandatário, seja por renúncia ou por impeachment.
Impeachment e Descrédito Institucional
O impasse está instalado. Enquanto Ediane Maria lidera a frente jurídica do processo, França simboliza a pressão política que se amplia no campo oposicionista. A base governista, no entanto, ainda mostra resistência em permitir o avanço do pedido. É um jogo de forças que tende a se intensificar com o passar das semanas.
A decisão da Alesp será acompanhada de perto, pois, mais do que um julgamento político, ela testará os limites do respeito às instituições democráticas. O episódio escancara como a linha entre liberdade de expressão e responsabilidade institucional está cada vez mais tênue — e como a influência internacional, especialmente dos EUA, ainda reverbera de forma intensa na política interna brasileira.
Risco institucional ou estratégia política?
Em tempos de polarização, episódios como esse adquirem contornos simbólicos. A postura de Tarcísio de Freitas, que vinha buscando se apresentar como gestor técnico e moderado, agora se vê questionada por manifestações que, para muitos, o reaproximam do bolsonarismo raiz.
A pergunta que fica é: trata-se de uma escorregada pontual ou de uma estratégia deliberada para consolidar uma base eleitoral à direita em 2026? A resposta poderá vir não apenas das urnas, mas das salas da Assembleia Legislativa de São Paulo.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.
Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, incluindo Revista Oeste, Folha de S.Paulo, PSOL-SP, ICL Notícias, Gazeta do Povo, Brasil 247 e JOTA Jornalismo.”