*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Anúncio bilionário: realidade ou estratégia?
Diante da crescente revolta popular e da pressão por melhorias no saneamento básico, a Sabesp e o governo de São Paulo, ao invés de obras imediatas, anunciaram um investimento de R$ 7,5 bilhões na Baixada Santista. A princípio, o montante parece expressivo e sugere um compromisso firme com a solução dos problemas históricos da região. No entanto, uma análise mais detalhada revela que esse anúncio pode ser mais uma jogada de relações públicas do que uma resposta concreta às necessidades da população.
Metade desse valor, conforme apurado, já havia sido divulgada anteriormente, com obras em andamento ou concluídas. Essa reciclagem de anúncios não apenas infla artificialmente o montante total, mas também levanta dúvidas sobre a real intenção da Sabesp. Quando se subtrai o que já estava planejado, resta pouco de fato “novo” nessa promessa bilionária. Sem transparência, fica difícil saber se esses investimentos são reais ou apenas uma tentativa de aplacar a insatisfação popular.
A urgência da Baixada Santista não pode esperar
Anúncios de investimentos não significam, necessariamente, melhorias imediatas. O cronograma apresentado pela Sabesp estende a execução das obras até 2029, um prazo preocupante diante da gravidade da crise sanitária na região. No Brasil, prazos longos para infraestrutura costumam ser sinônimo de atrasos, revisões orçamentárias e, muitas vezes, abandono de projetos.
Enquanto os investimentos se arrastam por quase uma década, a Sabesp continuará arrecadando altos valores na Baixada Santista sem que a população perceba mudanças significativas no curto prazo. Essa espera prolongada não é aceitável, considerando que a precariedade do saneamento já impacta a saúde pública, com o aumento de doenças e a contaminação da água.
A população da Baixada precisa de soluções imediatas, não de promessas de longo prazo que podem nunca sair do papel. Obras de saneamento não são um favor ou um plano futuro; são um direito básico que deveria ter sido garantido há anos.
Transparência e fiscalização são fundamentais
Se a Sabesp realmente pretende resolver os problemas de saneamento na Baixada Santista, a transparência precisa ser prioridade. A empresa deve divulgar, de forma clara e acessível, seu faturamento na região e os valores efetivamente investidos nos últimos dez anos. Esse comparativo mostraria se os recursos arrecadados têm sido devidamente reinvestidos ou desviados para outras prioridades.
Além disso, é fundamental que a sociedade civil e órgãos fiscalizadores acompanhem de perto a execução dos investimentos prometidos. Sem mecanismos de controle, o risco de novos atrasos, superfaturamentos ou descumprimento das metas é alto. O saneamento básico não pode continuar sendo tratado como uma questão secundária ou um ativo político para discursos eleitoreiros.
É hora de ação, não de propaganda
O anúncio de R$ 7,5 bilhões pode ser um passo importante, mas não pode se tornar apenas mais um capítulo na história de promessas não cumpridas. A população da Baixada Santista já esperou tempo demais por soluções reais e efetivas.
Se o governo e a Sabesp querem recuperar a confiança da população, devem começar garantindo prazos curtos, transparência na aplicação dos recursos e fiscalização contínua das obras. A crise do saneamento é urgente, e a dignidade das pessoas não pode ser adiada para daqui a uma década.
Agora, mais do que nunca, é preciso acompanhar, cobrar e exigir que os investimentos anunciados se transformem em benefícios concretos para a população. Chega de propaganda sem ação.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, cientista político, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD
Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, incluindo relatórios públicos e declarações oficiais da Sabesp e do governo do estado de São Paulo.”