José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Um Paraíso Sob Ameaça
A Serra do Guararú, no litoral paulista, é uma joia ambiental que abriga uma rica biodiversidade, com aves, mamíferos e flora únicas em seus 25,6 km² de área protegida. Contudo, este santuário natural vem sendo palco de reiterados eventos clandestinos, como as chamadas “raves”. Essas festas, caracterizadas por longas horas de música alta, têm gerado sérios impactos ambientais e sociais. A Manchete foco para deste debate é clara: “Área ambiental virou palco eterno para raves”.
Esses eventos, realizados frequentemente às margens da Rodovia Guarujá-Bertioga (SP-61), utilizam áreas de proteção ambiental (APAs) de maneira indevida. A conivência de autoridades e a força do poder econômico criam um cenário de descaso e permissividade que ameaça o equilíbrio ambiental e a vida das comunidades locais.
Impactos Profundos e Denúncias Ignoradas
O som das festas ultrapassa os limites da Serra do Guararú, atingindo bairros como Caruara, em Santos, e até Caiubura, em Bertioga. Relatos de vidros rachados, animais silvestres desorientados e poluição sonora constante são apenas a ponta do iceberg. As festas também comprometem a pesca artesanal e o cotidiano dos moradores, muitos deles caiçaras e quilombolas que dependem dos recursos naturais da região.
Segundo Sidnei Bibiano, presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Cachoeira, “os pescadores não conseguem trabalhar devido ao tráfego intenso e ao movimento noturno nas águas”. Esse relato reforça a necessidade urgente de ações que coíbam o uso inadequado da área. Ainda assim, as denúncias apresentadas ao Ministério Público Federal e Estadual resultaram em interdições temporárias, insuficientes para conter a continuidade desses abusos.
Legalidade em Xeque
A Prefeitura de Guarujá sustenta que os eventos estão devidamente licenciados, inclusive com laudos de impacto sonoro. No entanto, especialistas e ambientalistas, como o professor Matheus Marques, discordam veementemente. Ele afirma que os gestores da APA permanecem omissos, permitindo que festas ocorram sem qualquer respeito às diretrizes do Plano de Manejo da Serra do Guararú, que exige a conservação dos recursos naturais e o controle de atividades de alto impacto.
Além disso, a ausência de infraestrutura adequada para esgoto e coleta de lixo nas proximidades das festas agrava ainda mais o problema, colocando em risco os manguezais e os habitats marinhos.
Raves e o Desequilíbrio Social e Ambiental
É fundamental destacar que a prática não impacta apenas o meio ambiente. O trânsito excessivo, aliado à falta de sinalização e iluminação pública, compromete a segurança dos motoristas e pedestres. A venda de bebidas alcoólicas em áreas próximas à rodovia SP-61 contraria a Lei 11.705/2008, expondo todos os presentes e os habitantes locais a riscos adicionais.
A frase de foco, “Área ambiental virou palco eterno para raves”, redobra seu peso diante da inação das autoridades e da ausência de diálogo com a sociedade civil. Enquanto isso, o bem-estar de seis mil moradores, incluindo crianças autistas e animais silvestres, continua sendo desrespeitado por explosões de fogos e sons que ultrapassam qualquer limite razoável.
O Desafio de Conscientizar
A luta para preservar a Serra do Guararú exemplifica o desafio maior que enfrentamos como sociedade. De um lado, interesses econômicos lucram com a degradação do meio ambiente. De outro, ambientalistas e comunidades resistem com recursos limitados. Como falei ao ser consultado para a reportagem: Estamos todos no mesmo barco; proteger o planeta é uma responsabilidade coletiva.
Para resolver essa situação, é imprescindível fortalecer a fiscalização, aplicar leis de preservação ambiental de forma rigorosa e criar mecanismos que protejam as comunidades tradicionais. O futuro do litoral paulista depende da nossa capacidade de agir agora.
Declaração de Fontes: “As informações contidas neste artigo são baseadas na matéria do jornalista Carlos Ratton, publicada originalmente no jornal Diário do Litoral, e em dados complementares sobre a Serra do Guararú.”