RAÍZES PROFUNDAS DO GOLPE CONTINUADO

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*Por José Manoel Ferreira Gonçalves

Para compreendermos o golpe de 31 de março de 1964 em sua totalidade, é necessário analisarmos o contexto histórico que o engendrou, em vez de tratá lo como um evento isolado. Essa visão fragmentada, aliás, é o que permite que a ideologia e a superficialidade dominem nossa consciência e influenciem nosso comportamento. Sem uma reconstrução histórica meticulosa, não podemos compreender a lógica social que determina os acontecimentos em nossa sociedade.

A cultura de golpes de Estado no Brasil, longe de ser uma série de eventos isolados, constitui uma trama recorrente na história política do país. Essa cultura, entrelaçada com as dinâmicas de poder e controle social, revela como as elites utilizam mecanism os de interrupção democrática para manter e consolidar seu domínio. Assim, a função dos militares, nesse cenário, tem sido executar o “serviço sujo”, garantindo a perpetuação desses interesses

Getúlio Vargas: O Construtor do Brasil Moderno

Getúlio Vargas, o arquiteto do Brasil moderno, desempenhou um papel central na formação da cultura política brasileira. Sua era, marcada por transformações significativas, estabeleceu as bases do capitalismo industrial e um Estado mais centralizado. Além d isso, Vargas promoveu uma revolução cultural, valorizando a herança Vargas promoveu uma revolução cultural, valorizando a herança africana e elementos da cultura popular como o samba e o futebol, africana e elementos da cultura popular como o samba e o futebol, que antes eram marginalizados e associados a uma imagem que antes eram marginalizados e associados a uma imagem pejorativa.

A Ambiguidade do Racismo Brasileiro

Apesar da boa intenção e dos importantes avanços, a era Vargas não erradicou o racismo, mas transformou o em uma versão mais sutil, conhecida como “racismo cordial”. Essa forma de racismo se
manifesta na maneira como a elite e a classe média branca continu aram a discriminar negros e mestiços, utilizando, contudo, uma retórica que evitava menções explícitas à raça. Assim, o racismo no Brasil assumiu uma característica envergonhada, ocultada sob a superfície de uma aparente cordialidade.

A Construção da Síndrome Vira Lata

Sérgio Buarque de Holanda, com sua obra Raízes do Brasil, contribuiu para a criação do estereótipo do “homem cordial”, um retrato crítico da identidade nacional que mistura a cordialidade superficial com uma suposta propensão à corrupção. Essa imagem contribuiu para a narrativa usada pelas elites para desacreditar a participação popular na política, rotulando a como corrupta e ilegítima, especialmente quando voltada para os interesses das classes populares.

O Sufrágio Universal e o Medo da Elite

A adoção do sufrágio universal após a Segunda Guerra Mundial representou uma ameaça aos privilégios históricos da elite e da classe média branca. Essa ameaça se concretizava sempre que líderes populares, representantes das classes marginalizadas, chegavam ao poder e ameaçavam redistribuir os recursos do
Estado em benefício da maioria, que menos os têm. Assim, os golpes de Estado surgiram como mecanismos para reverter esses avanços e restaurar a ordem favorável às elites.

Golpes de Estado Como Instrumentos de Controle

Líderes como Getúlio Vargas, João Goulart (Jango), Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) e Dilma Rousseff (que envolveram suicídio, renúncia, fuga, supostas pedaladas e dramática prisão presidencial sem provas) exemplificam como os golpes foram utilizados para interromper períodos de governança voltada para as classes populares. Esses eventos, frequentemente baseados em acusações de corrupção não comprovadas, serviram para mascarar o racismo e o elitismo subjacen tes, justificando a retomada do controle pelo grupo dominante.

Mídia, Militares e o Saque do Estado

A grande imprensa, controlada pelas elites, juntamente com as forças militares, desempenhou um papel crucial nesse processo, facilitando o saque e a exploração do facilitando o saque e a exploração do Estado e seus recursos. Essa Estado e seus recursos. Essa simbiose entre mídia, militares e elites configura a estrutura de simbiose entre mídia, militares e elites configura a estrutura de poder que sustenta a cultura de golpes de Estado no Brasil, poder que sustenta a cultura de golpes de Estado no Brasil, perpetuando um ciclo de dominação e exclusão.perpetuando um ciclo de dominação e exclusão.

Desafio de Transformação e Resistência

O entendimento desses padrões históricos é essencial para desafiar a cultura de golpes e promover uma verdadeira transformação democrática. A resistência a essa cultura exige a rejeição das narrativas elitistas e o comprometimento com a justiça social e a igualdade, visando uma sociedade onde o poder seja genuinamente representativo e inclusivo.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a Prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA.

Fonte: Biblioteca do autor

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