Projeto de Concessão da Cadeira In Memoriam Eng. Rubens Paiva 

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1. Introdução

Proponho a criação de uma cadeira in memoriam em homenagem ao engenheiro Rubens Beyrodt Paiva na Academia de Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Rubens Paiva, ex-aluno de engenharia civil do Mackenzie, notabilizou-se não apenas pela carreira técnica, mas por sua atuação como intelectual e homem público. Ele dedicou sua vida à defesa da democracia e da justiça social, tendo pago com a própria vida por seus ideais. Seu nome tornou-se símbolo da luta pela verdade no Brasil, especialmente por ter sido vítima do regime ditatorial de 1964. Diante de sua trajetória exemplar e do legado humanístico de seus discursos e escritos, esta proposta busca sensibilizar os colegas membros da Academia de Letras Mackenzista da relevância de conceder-lhe uma cadeira póstuma, eternizando seus ideais no seio da instituição.

A seguir, apresento a justificativa detalhada para tal honraria. Inicia-se com um histórico de Rubens Paiva, ressaltando sua formação mackenzista e contribuição no cenário nacional. Em seguida, compilo trechos de seus escritos e discursos marcantes – desde artigos e manifestações estudantis até pronunciamentos parlamentares e em rádio – demonstrando a qualidade e a importância de sua produção intelectual. Analisa-se também o impacto e legado dessas ideias para a sociedade brasileira, evidenciando o valor literário e cívico de sua obra. Por fim, constrói-se a argumentação conclusiva a favor da concessão da cadeira, buscando atualizar os pares da Academia quanto à importância do reconhecimento de Rubens Paiva in memoriam.

2. Histórico de Rubens Paiva

Rubens Paiva (1929-1971) nasceu em Santos (SP) e, desde jovem, demonstrou engajamento cívico e intelectual. Na faculdade, formou-se em engenharia civil pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, onde despontou como líder estudantil. Durante sua graduação no início dos anos 1950, atuou intensamente no movimento estudantil, em uma época de grande efervescência política. Foi eleito presidente do Centro Acadêmico Horácio Lane (entidade dos estudantes de engenharia) e participou de campanhas de interesse nacional, como o movimento “O petróleo é nosso” pela soberania sobre o petróleo brasileiro. Ao final do curso, ingressou na vida política, filiando-se inicialmente ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e colaborando com o Jornal de Debates, um seminário de ideias nacionalistas em São Paulo. Essa participação precoce na imprensa universitária e partidária evidencia sua vocação para as letras e o debate público, mesmo sendo da nobre área de engenharia.

Em 1962, Rubens Paiva decidiu candidatar-se a deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), buscando levar adiante seu idealismo em prol de reformas sociais. Eleito por São Paulo, tomou posse em 1963 e integrou a ala nacionalista e reformista do Congresso, conhecida como Grupo Compacto do PTB. Em seu breve mandato de pouco mais de um ano, destacou-se pela combatividade e coerência. Paiva foi membro titular de comissões parlamentares e assumiu funções de liderança, como vice-líder do PTB na Câmara e presidente da Comissão de Transportes e Obras Públicas. Porém, sua contribuição mais notável nesse período foi como vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do IBAD/IPES, que investigou denúncias de financiamento eleitoral ilegal por entidades empresariais nacionais e estrangeiras. Essa CPI, instaurada em 1963, revelou pela primeira vez um grande esquema de corrupção eleitoral e influência clandestina na política brasileira, envolvendo inclusive repasses de multinacionais e da CIA. Rubens Paiva teve postura firme nas investigações, confrontando colegas que tentavam obstruir os trabalhos, o que elevou sua imagem de parlamentar íntegro e idealista.

Paralelamente, Paiva defendia ativamente as Reformas de Base propostas pelo presidente João Goulart – como a reforma agrária, a nacionalização de setores estratégicos e a ampliação de direitos sociais. Sua postura alinhada a essas causas nacionalistas e populares refletia a coerência política que ele manteria por toda a vida, sendo este talvez seu maior legado. Quando forças conservadoras articularam o golpe militar de 1964, Rubens Paiva posicionou-se bravamente em defesa da ordem democrática. Na madrugada de 1º de abril de 1964, com o golpe em andamento, ele fez um pronunciamento histórico na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conclamando trabalhadores e estudantes a resistirem de forma pacífica em defesa da legalidade constitucional e do governo legítimo de Goulart. Nesse discurso público, criticou frontalmente as autoridades que apoiavam a ruptura institucional e apelou ao povo para não aceitar passivamente o arbítrio.

O engajamento de Rubens Paiva contra o golpe teve consequências imediatas. Apenas dias depois, em 10 de abril de 1964, seu mandato parlamentar foi cassado pelo regime militar por meio do Ato Institucional nº 1. Foi forçado a afastar-se da vida pública e teve seus direitos políticos suspensos. Diante da perseguição, exilou-se por alguns meses na Iugoslávia e França, mas seu espírito inquieto logo falou mais alto: em uma atitude audaciosa, Paiva retornou clandestinamente ao Brasil ainda em 1964, decidido a não viver no exílio. Conforme relato de sua família, ao chegar de surpresa em casa com um buquê de rosas, anunciou que estava no Brasil e não sairia mais, declarando sua determinação em permanecer no país apesar dos riscos. Esse retorno, marcado pela coragem, reafirmou seu compromisso com a luta democrática.

Nos anos seguintes, mesmo impedido de ocupar cargos eletivos, Rubens Paiva continuou atuando nos bastidores em prol da resistência ao autoritarismo. Retomou a profissão de engenheiro civil e empreendedor – chegou a dirigir empresas de construção –, mas sem nunca se omitir politicamente. Participou da direção do jornal Última Hora em São Paulo, periódico de oposição ao regime, e ajudou pessoas perseguidas a deixarem o país, além de manter contato com exilados. Seu envolvimento discreto com grupos que resistiam à ditadura e sua solidariedade aos perseguidos mostravam que ele permanecera fiel aos ideais de juventude. Essa continuidade de atuação, mesmo após ter sido cassado, levou a que órgãos repressivos o mantivessem sob vigilância constante.

Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi novamente alvo da violência política, desta vez de forma definitiva. Agentes da repressão invadiram sua residência no Rio de Janeiro e o prenderam sem mandado, sob a alegação de ligações dele com militantes em exílio. Levado para instalações militares (primeiro para um quartel da Aeronáutica e depois para o DOI-CODI do Exército), Paiva foi torturado até a morte nas mãos dos militares. Por décadas, sua família permaneceu sem informações claras sobre seu destino, enfrentando versões oficiais falsas que negavam a responsabilidade pelo seu desaparecimento. Somente muitos anos depois, durante o processo de redemocratização, a morte de Rubens Paiva foi oficialmente reconhecida e documentada. Seu assassinato tornou-se emblemático entre os crimes da ditadura – um caso que chocou o país e permaneceu “engasgado na garganta do Brasil”, segundo expressão de seu biógrafo Jason Tércio. A figura de Rubens Paiva, então com 41 anos, ingressou na memória nacional como símbolo de resistência e mártir da democracia.

3. Compilação de escritos e discursos

Apesar de não ter sido escritor de livros ou obras literárias tradicionais, Rubens Paiva deixou um conjunto significativo de textos e discursos que ilustram seu pensamento e habilidade no trato com as palavras. Sua atuação pública gerou artigos, falas em plenário e manifestações em rádio de grande valor histórico e literário, nos quais expôs com clareza e paixão suas ideias. A seguir, compilamos alguns trechos relevantes de sua produção intelectual, com breves contextualizações:

  • Jornalismo estudantil e engajamento inicial

Ainda jovem, Paiva exercitou a escrita dirigindo o jornal O São Bento em sua época de colégio e colaborando com o Jornal de Debates durante a faculdade. Nesses veículos, defendeu causas nacionalistas como a preservação da Petrobrás frente a pressões privatistas e promoveu debates sobre o desenvolvimento do país. Ele escrevia movido por convicção, acreditando que o Brasil tinha solução e podia melhorar a situação dos mais pobres. Esses primeiros artigos revelam a veia humanista e o otimismo reformista do jovem engenheiro-escritor.

  • Discursos parlamentares (1963-1964)

No exercício do mandato, Rubens Paiva utilizou a tribuna e as comissões da Câmara dos Deputados como espaços de expressão de suas ideias progressistas. Um momento notável foi durante a CPI do IBAD, em 1963, na qual Paiva confrontou colegas que tentavam desacreditar as investigações de financiamento ilegal. Em uma das sessões tensas da comissão, diante de perguntas tendenciosas do relator destinadas a proteger os acusados, Rubens Paiva protestou energicamente contra a parcialidade. Ele chegou a declarar em plenário que o relator, ao formular suas perguntas, mais parecia advogado do IBAD, retirando publicamente sua confiança no deputado. Essa contundente intervenção evidencia a coragem moral e a eloquência de Paiva em defesa da verdade. Seus discursos parlamentares, sempre firmes, porém corteses, combinavam argumentação técnica (própria de sua formação de engenheiro) com ardor cívico, o que lhes confere valor histórico e literário. Em outra ocasião, atuando como vice-líder do PTB, ele e seus companheiros da ala progressista articulavam-se em prol das reformas de base e da legalidade democrática, formando uma camaradagem combativa descrita por observadores da época.

  • Pronunciamento na Rádio Nacional (1º/4/1964)

Na madrugada de 1º de abril de 1964, quando o país vivia horas decisivas do golpe de Estado, Rubens Paiva realizou aquele que talvez seja seu discurso mais famoso, transmitido ao vivo por uma rede de rádios. Falando diretamente ao povo brasileiro, ele fez um apelo emocionado em defesa do governo constitucional e das reformas populares. Com voz firme, conclamou trabalhadores e estudantes a se mobilizarem contra o movimento golpista, afirmando que ao lado do presidente legítimo estava a maioria do povo brasileiro desejando reformas e a distribuição de riqueza. Paiva pediu união cívica e vigilância, orientando que todos estivessem atentos às palavras de ordem que emanassem das rádios que estivessem integradas na defesa da legalidade. O discurso, ainda que breve, tornou-se histórico pela coragem de, em meio à tensão do golpe, um deputado falar abertamente contra os insurgentes e insuflar a resistência popular. A repercussão daquele pronunciamento foi significativa: para muitos ouvintes, suas palavras representaram a esperança de que a democracia fosse mantida.

Esses exemplos ilustram a produção textual e discursiva de Rubens Paiva, que abrange desde artigos de juventude engajados até discursos parlamentares e em meios de comunicação de massa. Em todos, percebe-se um estilo claro, direto e fundamentado, aliado a um profundo senso de justiça. Sua palavra, escrita ou falada, foi uma arma poderosa na defesa de ideais. Ao compilar tais trechos, evidencia-se que Rubens Paiva não foi apenas um homem de ação, mas também de reflexão e verbo – qualidade essencial para figurar em uma Academia de Letras. Seus escritos e discursos permanecem atuais pela lucidez com que abordavam temas como ética na política, soberania nacional e direitos do povo.

4. Impacto e legado intelectual

A influência de Rubens Paiva se estende muito além de sua breve atuação política. O valor de sua produção intelectual e de seu exemplo de vida ecoou nas décadas seguintes, contribuindo de maneira singular para a memória e a consciência crítica da sociedade brasileira. Podemos analisar seu legado em dois âmbitos principais: (a) as contribuições diretas de suas ideias e ações para mudanças concretas ou debates no Brasil; e (b) a inspiração e simbolismo que sua figura passou a representar na cultura e na luta por direitos, o que inclui sua presença em obras literárias, jornalísticas e acadêmicas posteriores.

Em termos de contribuição direta, Rubens Paiva deixou marcas importantes. Sua atuação na CPI do IBAD, por exemplo, lançou luz sobre a interferência ilegítima de poder econômico nas eleições, revelando um esquema de corrupção eleitoral de magnitude inédita até então. As descobertas e o relatório dessa comissão anteciparam debates sobre financiamento de campanhas e soberania nacional que ganhariam corpo anos depois. Embora a CPI não tenha resultado em punições imediatas (devido ao golpe), o material coletado serviu de registro histórico e ajudou a desmascarar interesses ocultos que levaram à ruptura democrática. Ou seja, intelectualmente, Rubens Paiva contribuiu para expor verdades incômodas e promover a transparência política – uma realização alinhada aos propósitos de um pensador comprometido com a república. Ademais, as causas defendidas por Paiva em seus discursos – como a reforma agrária, a educação universal, a justiça social – continuaram na agenda nacional e inspiraram movimentos posteriores. Sua defesa enfática dessas pautas progressistas, mesmo pertencendo a uma elite privilegiada, demonstrou que era possível articular um projeto de país mais justo.

No âmbito simbólico e cultural, o legado de Rubens Paiva é ainda mais evidente. Seu desaparecimento trágico e a longa busca por justiça transformaram-no em um símbolo da resistência à ditadura e da luta por direitos humanos no Brasil. Durante o regime autoritário, seu nome era sussurrado como lembrança dos custos da repressão; na redemocratização, tornou-se bandeira na cobrança por esclarecimentos sobre os desaparecidos políticos. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo (batizada justamente Comissão Rubens Paiva) investigaram e reconheceram oficialmente as circunstâncias de sua morte, reafirmando a importância de sua história para a memória nacional. Sua família – em especial sua esposa Eunice Paiva e seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva – atuou intensamente para manter vivo o legado do ex-deputado, contribuindo para que o país não esquecesse os erros do passado. Essa persistência resultou em homenagens e obras que mantêm acesa a chama da lembrança: em 1996 saiu o atestado de óbito de Rubens Paiva; seu nome batiza ruas, escolas e prêmios dedicados à cidadania em diversas cidades brasileiras; e tornou-se objeto de estudos, livros e filmes.

Destaca-se, no campo literário e artístico, a obra gerada em torno de sua vida. Marcelo Rubens Paiva publicou livros que tratam da perda do pai e do contexto da ditadura (como Ainda Estou Aqui). Esse livro, de forte conteúdo memorialístico, foi adaptado para o cinema. O filme homônimo obteve enorme repercussão nacional e internacional, a ponto de conquistar prêmios importantes. Tal reconhecimento não apenas recupera a história de Rubens Paiva para novas gerações, como confirma o profundo impacto emocional e universal de seu legado. A narrativa de sua vida – um homem idealista confrontando forças opressoras – ressoa em públicos diversos e se converteu em arte premiada, elevando sua memória a um patamar global. Pesquisadores comentam que a popularidade do filme trouxe uma oportunidade de resgatar o legado do homem de “trajetória idealista e corajosa”, que defendia reformas sociais e outras causas coletivas. Ou seja, as lutas e pensamentos de Rubens Paiva continuam inspirando reflexões contemporâneas, provando o valor perene de sua contribuição intelectual.

Além disso, a Câmara dos Deputados lançou uma biografia oficial de Rubens Paiva na coleção Perfis Parlamentares, como forma de reparar e celebrar sua memória no âmbito institucional. Universidades e entidades profissionais também rememoram seu exemplo –seu nome é constantemente lembrado em eventos do sistema CREA/Conselhos de Engenharia, dada sua postura de engenheiro engajado. Tudo isso demonstra que a influência de Rubens Paiva transcendeu sua existência: suas ideias continuaram vivas, alimentando tanto políticas públicas quanto produções culturais e discussões acadêmicas sobre democracia, memória e direitos humanos.

O legado intelectual de Rubens Paiva pode ser medido não em números de livros publicados, mas na profundidade e permanência de suas palavras e atos no imaginário do país. Ele personifica a união entre conhecimento técnico e humanístico, usando sua formação acadêmica e sua pena (ou voz) para iluminar questões sociais críticas. Foi um intelectual público que usou seu talento e privilégio para dar voz aos princípios de liberdade, justiça e solidariedade. Valorizar esse legado é fundamental para a sociedade brasileira – especialmente no ambiente universitário, que tem o dever de preservar a memória daqueles que lutaram pelos valores humanísticos que informam a cultura e as letras.

5. Argumentação para a concessão da cadeira

Diante do exposto, torna-se clara a relevância de conceder uma cadeira in memoriam a Rubens Paiva na Academia Mackenzista de Letras. A seguir, são delineados os principais argumentos que fundamentam nossa proposta, visando persuadir os ilustres acadêmicos a endossá-la:

  1. Vínculo Histórico com o Mackenzie e Inspiração para a Comunidade Acadêmica

    Rubens Paiva foi um filho ilustre do Mackenzie, onde se formou engenheiro e exerceu liderança estudantil. Sua trajetória demonstra como a formação mackenzista contribuiu para moldar um profissional tecnicamente competente e, simultaneamente, um cidadão consciente e engajado. Honrá-lo com uma cadeira perpétua reforça o orgulho institucional nos alunos que transpõem os muros da universidade e influenciam a nação. Significa dizer aos atuais e futuros estudantes que o Mackenzie valoriza não apenas o sucesso profissional, mas também a retidão de caráter, a defesa da liberdade e a produção intelectual voltada ao bem comum – valores esses que Rubens Paiva personificou. A Academia de Letras, como guardiã da memória intelectual mackenzista, ao incluir Paiva em seu panteão, inspira a comunidade acadêmica a seguir seu exemplo de idealismo e coragem.

    1. Contribuição Intelectual e Literária Significativa

    Embora Rubens Paiva não tenha publicado obras literárias no sentido clássico, sua produção de discursos, artigos e intervenções públicas configura uma contribuição intelectual de grande mérito. Seus pronunciamentos revelam um domínio exemplar da palavra escrita e falada, qualidade essencial para figurar em uma Academia de Letras. Paiva aliou técnica argumentativa e sensibilidade social em seus textos, seja ao redigir num jornal estudantil, discursar no Parlamento ou falar ao país pelo rádio. A própria qualidade literária de seus discursos evidencia um estilo claro, vigoroso e elegante, digno dos anais da retórica brasileira. Além disso, sua vida e escritos inspiraram obras de terceiros (biografias, filmes, ensaios), o que reflete a riqueza temática e humana de sua história. Assim, ao conceder-lhe uma cadeira, a Academia reconhece que a literatura não se restringe à ficção ou poesia, mas inclui a palavra empenhada na construção da sociedade. Rubens Paiva, com sua pena e voz, contribuiu para escrever importantes capítulos da história do Brasil – e esse feito intelectual merece o reconhecimento acadêmico.

    1. Legado Ético, Humanístico e Relevância Nacional

    A Academia Mackenzista de Letras tem por missão promover não só a literatura, mas também os valores éticos e humanísticos que permeiam a educação integral. Rubens Paiva representa exemplarmente esses valores. Sua vida foi pautada pela coerência ética, mantendo os ideais mesmo frente à adversidade extrema. Foi um intelectual público que colocou seu saber e prestígio a serviço da justiça social, denunciando a corrupção, combatendo autoritarismos e lutando por um Brasil mais inclusivo. Tal postura guarda profunda ressonância com os princípios que uma academia de letras universitária deve cultivar – a saber, o compromisso da inteligência com a virtude cívica. Além disso, Rubens Paiva tem relevância nacional e histórica inquestionável: é reconhecido hoje como um mártir da democracia e um símbolo do “nunca mais” em relação às violações de direitos humanos. Ao inseri-lo em seu quadro, a Academia projeta-se para além do âmbito interno, conectando-se às grandes narrativas da história brasileira e mostrando-se sensível às questões da memória e da verdade. Essa projeção enriquece o próprio prestígio da instituição, alinhando-a com um nome que é sinônimo de luta por liberdade e dignidade.

    1. Precedente e Justiça Histórica

    Outras academias e instituições culturais pelo mundo frequentemente ocupam cadeiras in memoriam ou homenageiam postumamente figuras que, em vida, contribuíram para as letras ou para a cultura nacional, mesmo que não tenham sido membros formais. No contexto mackenzista, já se prevê que cada cadeira corresponda a uma figura histórica ligada à formação do Mackenzie. Nada mais justo que Rubens Paiva seja alçado a esse patamar, ao lado de patronos e luminares da universidade. Trata-se de corrigir uma omissão: até hoje, a memória de Rubens Paiva não foi formalmente laureada pela instituição que o formou. Conferir-lhe agora uma cadeira na Academia de Letras representa uma justa reparação histórica, inserindo seu nome no rol oficial de personalidades mackenzistas dignas de honra e estudo. É um gesto que demonstra reconhecimento e gratidão da universidade para com um ex-aluno cujo destino trágico impediu que ele próprio pudesse receber homenagens em vida.

    A concessão da Cadeira Rubens Paiva in memoriam apresenta-se como uma iniciativa altamente meritória e simbólica. Os argumentos aqui alinhavados mostram que Rubens Paiva reúne todos os predicados para tal honraria: ele tem vínculo indelével com o Mackenzie; sua produção intelectual e atuação pública possuem valor literário, histórico e moral; e seu legado inspira a sociedade e coaduna-se com os ideais acadêmicos mais nobres. Aprovar esta proposta significará não apenas enaltecer a memória de um grande brasileiro, mas também afirmar o papel da Academia Mackenzista de Letras enquanto guardiã de valores e história. Os pares desta Academia, ao votarem favoravelmente, darão um exemplo eloquente de que a palavra e a memória têm força – força para educar, para inspirar e para construir um futuro fiel aos melhores ideais do passado. Em síntese, a instituição estará dizendo que Rubens Paiva continua presente entre nós, orientando novas gerações com o testemunho de sua vida e obra, agora eternizado em uma cadeira que levará seu nome. Tal reconhecimento será, sem dúvida, um marco na história da Academia e um legado perene do Mackenzie para a cultura brasileira.

    José Manoel Ferreira Gonçalves
    Acadêmico da Academia de Letras do Mackenzie – Academia de Letras José Veríssimo


    Referências:

    1. Marcelo Rubens Paiva. Ainda Estou Aqui. São Paulo: Alfaguara, 2015.
    2. Jason Tércio. Perfil Parlamentar de Rubens Paiva. Brasília: Edições Câmara dos Deputados, 2014.
    3. Agência Gov/EBC. “EBC resgata áudio de discurso histórico de Rubens Paiva na madrugada do golpe militar; ouça”. Agência Brasil, 05/03/2025.
    4. Luiz Cláudio Ferreira. “Morte de Rubens Paiva completa 54 anos com legado de luta reconhecido”. Brasil de Fato, 20/01/2025.
    5. Congresso em Foco. “Em CPI, Rubens Paiva investigou financiamento que levou ao golpe de 64”. Congresso em Foco, 05/03/2025.
    6. Memórias da Ditadura. “O discurso de Rubens Paiva”. Instituto Vladimir Herzog, acesso em 2023.
    7. Câmara dos Deputados. “Câmara lança biografia sobre ex-deputado morto durante a ditadura militar”. Agência Câmara de Notícias, 25/03/2014.
    8. Wikipédia. “Rubens Paiva – Wikipédia, a enciclopédia livre” (consulta em 10/03/2025).

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