*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
A Batalha nos Bastidores do Poder
Para o observador casual, a crise no Sport Club Corinthians Paulista pode parecer mais um capítulo de maus resultados esportivos e turbulência administrativa. Contudo, essa visão ignora o cerne da questão: o que se desenrola no Parque São Jorge não é uma crise de competência, mas uma disputa selvagem pelo poder. A verdadeira batalha transcende as quatro linhas e se concentra na reconquista do controle por um grupo hegemônico que, após mais de quinze anos no comando, foi derrotado nas urnas e, desde então, aguarda a oportunidade perfeita para retomar sua influência.
Com efeito, a eleição de Augusto Melo representou uma promessa de ruptura com um sistema arraigado. Sua vitória não foi apenas a troca de um presidente, mas a desestabilização de uma estrutura de poder consolidada. Desde o primeiro dia, a nova diretoria se viu em um campo minado, onde cada erro, por menor que fosse, seria amplificado e transformado em munição pela oposição que se mantinha à espreita. A crise atual, portanto, não nasceu de forma espontânea; ela foi cuidadosamente construída sobre as fragilidades de uma gestão iniciante que ousou desafiar o status quo.
A Crise Fabricada e a gestão Augusto Melo
É ingênuo acreditar que os problemas que emergiram, como o controverso caso do patrocínio com a VaideBet, sejam meros acidentes de percurso. Na verdade, eles serviram como o pretexto ideal para que a velha guarda, momentaneamente afastada do poder, lançasse sua ofensiva final. A estratégia é clara: criar um cenário de caos insustentável, minar a credibilidade da gestão Augusto Melo e apresentar-se como a única solução para “salvar” o clube do abismo.
Ademais, a velocidade com que as denúncias escalaram e o processo de impeachment foi instaurado revela uma articulação política robusta e preexistente. Qualquer nova administração está sujeita a falhas e necessita de tempo para se consolidar. Contudo, a Melo não foi concedido esse tempo. A pressão implacável visa não apenas corrigir supostos desvios, mas, fundamentalmente, asfixiar a nova gestão antes que ela possa consolidar suas bases e, principalmente, expor as práticas do passado que prometeu combater.
A gestão Augusto Melo sob Cerco Político
A defesa de Augusto Melo, que classifica o processo como uma manobra política, encontra eco na lógica dos acontecimentos. A narrativa de “associação criminosa” e “lavagem de dinheiro” é poderosa e causa um estrago imenso na opinião pública, mas é preciso analisar quem se beneficia diretamente dessa desestabilização. A resposta aponta invariavelmente para aqueles que perderam privilégios e acesso com a mudança de comando.
Nesse sentido, a atual turbulência não é um reflexo do fracasso do projeto de Melo, mas sim da intensidade da reação que sua eleição provocou. A promessa de uma auditoria rigorosa e de uma ruptura com os velhos modelos de negócio soou como uma declaração de guerra para a antiga diretoria. O que assistimos agora é o contra-ataque, travado não pelo bem do Corinthians, mas pela perpetuação de um grupo no poder. A gestão Augusto Melo está sob um cerco que visa sua aniquilação política para restaurar a ordem anterior.
O Futuro em Disputa
Portanto, o que está em jogo para os associados do Corinthians na próxima assembleia geral vai muito além de um simples veredito sobre a permanência de um presidente. A decisão definirá qual projeto de clube prevalecerá: o da ruptura, que, embora conturbado, busca um novo caminho, ou o da restauração, que representa o retorno a um modelo de poder que já deu fartas demonstrações de seu modus operandi por mais de uma década.
Dessa forma, a questão crucial não é se Augusto Melo cometeu erros, mas se esses erros justificam entregar o clube novamente àqueles que lutam com unhas e dentes para reaver o controle perdido. O Corinthians não sofre pela falta de títulos recentes, mas pela ferocidade de uma guerra interna que consome suas energias e desvia o foco do que realmente importa: seu futuro.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.
Declaração de Fontes: As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de análises e reportagens publicadas em veículos de imprensa de grande circulação, como Globo Esporte, UOL Esporte e ESPN Brasil, além de portais especializados na cobertura do Corinthians, como Meu Timão e Central do Timão.