PIB a 2,9%: Alta Quantitativa, Queremos a Qualitativa

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*Por José Manoel Ferreira Gonçalves

Impactos ambientais preocupantes

Embora estejamos comemorando, e com razão, que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha crescido 2,9% em 2023, é essencial considerar seu impacto ambiental abrangente. O crescimento do agronegócio, um importante contribuinte para o PIB, está relacionado à devastação ambiental significativa, incluindo o desmatamento do Cerrado e da Amazônia. Esses ecossistemas vitais desempenham um papel crucial na regulação do clima, protegendo a biodiversidade e fornecendo serviços ecossistêmicos essenciais. No entanto, a expansão agrícola impulsionada pelo crescimento do agronegócio tem levado à perda alarmante de cobertura vegetal, contribuindo para as mudanças climáticas e a degradação do solo.

Além disso, outro fator relevante para esse crescimento do PIB, a extração de petróleo e gás também está aumentando, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa. O Brasil, atualmente o sétimo maior produtor de petróleo do mundo, tem planos ambiciosos de aumentar sua produção e exportação de combustíveis fósseis, algo salutar para nossa economia. No entanto, essa estratégia entra em conflito com os compromissos climáticos do país e com a necessidade urgente de transição para fontes de energia renováveis.

Distribuição desigual

Além dos impactos ambientais, o crescimento do PIB brasileiro também tem sido marcado por uma distribuição desigual desse ganho. Os benefícios do crescimento concentraram-se principalmente em grandes corporações envolvidas no agronegócio, petróleo e mineração. Essas empresas têm se beneficiado de subsídios governamentais, incentivos fiscais e acesso privilegiado aos recursos naturais.

Em contraste, a maioria da população brasileira, incluindo os mais vulneráveis, não se beneficiou significativamente do crescimento. A distribuição desigual da renda perpetua a desigualdade social e econômica, limitando as oportunidades para muitos brasileiros.

Priorizando a sustentabilidade

Embora os ministérios da Economia e do Meio Ambiente defendam a transição ecológica para o modelo econômico brasileiro, os números atuais do crescimento do PIB mostram que ainda há muito a ser feito. É crucial que o crescimento econômico seja priorizado ao lado da sustentabilidade ambiental e da justiça social. Isso requer políticas que promovam a conservação dos recursos naturais, invistam em energias renováveis e incentivem práticas agrícolas sustentáveis.

A “curva de Kuznets” e seus limites

A “curva de Kuznets” propõe que a acumulação de riqueza acabará por beneficiar a todos. No entanto, estudos mais recentes mostraram que no longo prazo a riqueza se concentra sempre nas mãos de muito poucos. Assim, o crescimento econômico não é necessariamente sinônimo de desenvolvimento para todos.

No caso do Brasil, a concentração de riqueza nas mãos de uma elite privilegiada tem sido uma característica persistente. A desigualdade de renda é uma das maiores do mundo, e o fosso entre ricos e pobres continua a aumentar, notadamente impulsionada pelo chamado tecnofeudalismo, conceituado por Yanis Varoufakis.

A metáfora da “maré alta que eleva todos os barcos”

A teoria econômica afirma que o crescimento econômico “eleva todos os barcos”, ou seja, beneficia todos os setores da sociedade. No entanto, essa metáfora parece falha, pois o mesmo crescimento que beneficia desproporcionalmente os “iates”, muitas vezes afunda os “barcos”.

Pelo menos é fato que no Brasil, o crescimento econômico das últimas décadas não conseguiu elevar todos os barcos. A maioria da população ainda luta com baixos salários, acesso limitado a serviços essenciais e oportunidades econômicas precárias.

Necessidade de mudança

Os aspectos distributivos e qualitativos do PIB brasileiro precisam de atenção urgente. É necessário um crescimento econômico que beneficie todos, protegendo o meio ambiente e promovendo a justiça social. O desenvolvimento deve ser o objetivo, não apenas o crescimento numérico.

Isso requer políticas públicas que abordem as desigualdades estruturais, invistam em educação, saúde e infraestrutura, e promovam a participação dos cidadãos no processo de tomada de decisão. Também requer uma mudança na mentalidade, que priorize o bem-estar de todos os brasileiros e o cuidado com o meio ambiente para as gerações futuras.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a Prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA.

Fontes de dados:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): https://www.ibge.gov.br/
WWF Brasil: https://www.wwf.org.br/
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE): https://inpe.br/

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