*Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Pré-candidato a prefeito do Guarujá pelo PSol
A Petrobras, gigante do setor energético brasileiro, enfrenta um momento crucial em sua história. Após anos de políticas controversas e lucros exorbitantes, a empresa precisa se voltar para sua missão original: fornecer energia de forma acessível à população.
Este artigo analisará a situação atual da Petrobras, os desafios que ela enfrenta e a necessidade urgente de retomar seu papel social. Abordaremos as críticas à gestão da empresa, a herança do governo Bolsonaro e a importância de investir em energia renovável e acessível para o desenvolvimento do país.
Discutiremos também como o reinvestimento de parte dos lucros, apesar de reduzir dividendos no curto prazo, pode valorizar as ações da empresa no médio prazo, gerando retornos ainda maiores para os acionistas.
Herança de Conflitos Ideológicos
Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor da Petrobras, critica a falta de uma reforma no corpo gerencial da empresa. Segundo ele, a Petrobras ainda carrega a herança do governo Bolsonaro, o que causa conflitos ideológicos na direção da empresa. Essa herança se traduz em uma visão prioritariamente voltada para o lucro dos acionistas, em detrimento do bem-estar da população.
Estrella também denuncia o lucro “escandaloso” obtido pela estatal no último ano, resultado de uma prática que considera anti-estado. Essa busca desenfreada pelo lucro, argumenta, afasta a Petrobras de sua função social e prejudica o desenvolvimento do país.
Dividendos Exorbitantes e Falta de Investimento
A Petrobras foi a petroleira que mais pagou dividendos aos acionistas em 2023, superando gigantes como Chevron, BP e Exxon Mobil. Essa política de dividendos generosos, no entanto, tem um custo: a falta de investimento em áreas essenciais, como energia renovável e infraestrutura.
Segundo Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social do Petróleo, os investimentos da Petrobras ainda são baixos, considerando os planos da companhia. Se a empresa não controlar o pagamento de dividendos, terá de se endividar para fazer novos investimentos, o que coloca em risco sua saúde financeira e sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento do país.
Reinvestindo Lucros para Valorizar Ações no Médio Prazo
É importante destacar que o reinvestimento de parte dos lucros, apesar de reduzir os dividendos no curto prazo, pode ser uma estratégia vantajosa para os acionistas no médio e longo prazo. Ao investir em projetos que gerem crescimento e valor para a empresa, a Petrobras pode aumentar sua lucratividade, o seu patrimônio e, consequentemente, o valor de suas ações.
Em outras palavras, a valorização das ações no médio prazo pode compensar com vantagens a redução dos dividendos no curto prazo. Essa estratégia, além de beneficiar os acionistas, também permite que a Petrobras cumpra seu papel social, investindo em projetos que contribuam para o desenvolvimento do país.
A Primazia do Lucro e a “Valorização do Acionista”
A ênfase excessiva no lucro dos acionistas é uma tendência que se observa em diversas empresas ao redor do mundo. Essa visão, defendida por economistas como Milton Friedman, prega que as corporações devem ter como único objetivo maximizar os lucros para seus acionistas, ignorando responsabilidades sociais e o bem-estar da sociedade como um todo.
Essa busca pela “valorização do acionista” muitas vezes se dá em detrimento da criação de valor real para a própria empresa e para sociedade. Em vez de investir em novos projetos e tecnologias que beneficiem a população, as empresas se concentram em recompra de ações e pagamento de dividendos, o que até enriquece os acionistas, mas não necessariamente contribui para o sólido desenvolvimento econômico e social que beneficiaria atodos, inclusive aos próprios acionistas.
A Financeirização da Economia e a Perda de Foco na Produção
A financeirização da economia, ou seja, a crescente importância do setor financeiro em detrimento do setor produtivo, é um dos fatores que explicam a ênfase na “valorização do acionista”. As empresas se tornam cada vez mais dependentes de investimentos e de resultados financeiros de curto prazo, o que as afasta de seu papel na produção de bens e serviços que atendem às necessidades da população.
Essa lógica financeira, como aponta o economista Thomas Piketty, faz com que “o passado devore o futuro”. Em vez de investir em projetos de longo prazo que gerem empregos e crescimento econômico, as empresas se concentram em extrair valor de seus ativos existentes, o que beneficia os acionistas, mas limita o potencial de desenvolvimento da sociedade.
A Necessidade de Retomar o Papel Social da Petrobras
Diante desse cenário, é urgente que a Petrobras retome seu papel social e se concentre em fornecer energia de forma acessível à população. Isso significa investir em energia renovável, em infraestrutura e em projetos que beneficiem o desenvolvimento do país, algo que se espera de uma empresa controlada pelo setor público.
A Petrobras tem um papel fundamental a desempenhar na transição energética global. O Brasil possui um enorme potencial em energias renováveis, como solar e eólica, e a Petrobras precisa liderar esse processo, investindo em novas tecnologias e em projetos que diversifiquem a matriz energética brasileira.
A empresa também precisa garantir que a energia seja acessível à população. Os preços dos combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, têm um impacto significativo no custo de vida da população, especialmente dos mais pobres. A Petrobras precisa buscar alternativas para garantir que a energia seja acessível a todos, sem comprometer a saúde financeira da empresa.
Ao adotar uma estratégia de reinvestimento de lucros em projetos de longo prazo que gerem valor para a empresa e para a sociedade, a Petrobras pode conciliar os interesses dos acionistas com o bem-estar da população. Essa é a chave para que a empresa retome seu papel social original e contribua para um futuro mais sustentável e justo para o Brasil.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a Prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA.
Fontes de dados: Agência Brasil; Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET); Observatório Social do Petróleo