O incêndio do Reichstag e a ascensão do nazismo

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José Manoel Ferreira Gonçalves
Advogado e jornalista e cientista político

Uma noite que mudou a história

Na noite de 27 de fevereiro de 1933, portanto a menos de cem anos, Berlim foi tomada pelo caos. O prédio do Reichstag, sede do Parlamento alemão, ardia em chamas. A fumaça densa e o clarão do fogo iluminaram o céu da capital, enquanto tropas da polícia nazista ocupavam as ruas. Naquele instante, o destino da Alemanha mudava para sempre.

O incêndio serviu como pretexto para o Partido Nazista consolidar seu poder. Adolf Hitler, recém-nomeado chanceler, enfrentava resistência de opositores comunistas e sindicalistas. A tragédia forneceu a justificativa perfeita para intensificar a repressão e eliminar adversários políticos.

Quem foi o culpado?

Rapidamente, a polícia prendeu Marinus van der Lubbe, um jovem holandês ligado ao Partido Comunista. Apresentado como o responsável pelo atentado, ele foi condenado e executado. No entanto, as circunstâncias suspeitas do caso levantam dúvidas até hoje.

A versão oficial nazista afirmava que o incêndio era parte de um complô comunista para desestabilizar o governo. No entanto, historiadores e documentos posteriores apontam que o próprio Partido Nazista deve ter orquestrado o ataque. Hermann Göring, um dos principais líderes do regime, é o principal suspeito de planejar a ação para justificar a repressão.

Independentemente de quem acendeu o fósforo, o incêndio do Reichstag serviu de gatilho para um expurgo político sem precedentes.

Repressão e ascensão de Hitler

No dia seguinte ao incêndio, o presidente Paul von Hindenburg, presidente da Alemanha, da qual Hitler já era o Primeiro-ministro, assinou o “Decreto do Presidente do Reich para a Proteção do Povo e do Estado”, que eliminava liberdades civis fundamentais. Direitos como liberdade de imprensa, de reunião e de opinião foram suspensos.

A nova legislação permitia ao governo nazista prender opositores sem provas ou julgamento. O Partido Comunista foi dissolvido, e deputados comunistas foram encarcerados. O próprio Parlamento, enfraquecido, tornou-se uma marionete nas mãos de Hitler.

Com a oposição esmagada, Hitler conquistou poder absoluto. Em março de 1933, o Parlamento aprovou a Lei de Plenos Poderes, que concedia a ele autoridade para governar por decretos, sem necessidade de aprovação legislativa. O Terceiro Reich estava consolidado.

Georgi Dimitrov e a farsa nazista

O incêndio do Reichstag também resultou na prisão de Georgi Dimitrov, um líder comunista búlgaro que estava na Alemanha na época. Acusado sem provas, ele transformou seu julgamento em um campo de batalha política.

Dimitrov estudou detalhadamente o caso e dispensou advogados, optando por se defender pessoalmente. Em um embate direto contra os nazistas, expôs contradições e desmontou a narrativa oficial. Seu discurso final foi uma condenação feroz ao regime de Hitler.

A pressão internacional forçou os nazistas a libertarem-no. Dimitrov foi para a União Soviética, onde continuou sua luta contra o fascismo. Anos depois, com a queda do Terceiro Reich, a bandeira soviética tremulou sobre as ruínas do Reichstag – um símbolo do triunfo sobre o nazismo. Sim, apesar da propaganda americana, foram os soviéticos que venceram a Segunda Guerra, sendo o exército vermelho que invadiu Berlin, que resultou no suicídio de um dos maiores déspotas da história.

Lições da história

O incêndio do Reichstag se tornou um dos maiores exemplos de como governos autoritários manipulam tragédias para consolidar o poder. Sob o pretexto de proteger a nação, Hitler esmagou a democracia e abriu caminho para uma das ditaduras mais cruéis da história.

Ontem ouvimos Bolsonaro acusando a esquerda de ter organizado o 8 de janeiro. Nos Estados Unidos um símile de humano vem regendo o mundo ao modo de Hitler, sendo que seus assessores diretos já fazem em público a saudação nazista. A história está sempre aberta, tudo pode acontecer, por isso, é hora de estarmos atentos, em tenência.

*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD

Declaração de Fontes “As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de registros históricos, análises acadêmicas e fontes confiáveis sobre o tema, incluindo documentos oficiais e estudos de historiadores renomados.”

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