O Governo Tarcísio é corrupto?

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José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista

Negócios perigosos no exterior

Um escândalo internacional sacudiu o noticiário europeu e trouxe impactos diretos ao Brasil. A construtora espanhola OHLA, envolvida em um gigantesco esquema de corrupção na Espanha, é também a empreiteira estrangeira mais contratada pelo Governo de São Paulo sob a gestão de Tarcísio de Freitas. A revelação gera sérias dúvidas sobre os critérios de contratação adotados pelo Executivo paulista, especialmente em tempos em que a lisura na administração pública deveria ser inegociável.

Segundo o jornal El País, a Justiça espanhola identificou pagamentos ilícitos a políticos e favorecimentos escusos pela empreiteira — cujas obras no Brasil incluem trechos do Metrô de São Paulo. Em paralelo, um levantamento do portal Brasil 247 aponta que a OHLA faturou mais de R$ 1 bilhão em contratos com o governo paulista desde o início da atual gestão.

Corrupção Governo Tarcísio: contratos sob suspeita

O ponto mais preocupante da denúncia está na repetição de um padrão conhecido. Grandes contratos públicos, firmados sem o devido escrutínio, abrem espaço para desvios, superfaturamentos e, em última instância, a deterioração da confiança popular nas instituições. No caso da OHLA, mesmo diante de seu histórico problemático na Europa, o governo de Tarcísio escolheu priorizá-la em licitações e parcerias estratégicas.

A Secretaria de Parcerias em Investimentos, criada justamente para fomentar modelos modernos de concessão e obras públicas, está no centro dessas decisões. Sob seu guarda-chuva, firmaram-se acordos com a empreiteira para a construção e operação de ramais importantes da linha 6-laranja do Metrô — uma das obras mais caras do país. Isso ocorreu apesar dos alertas prévios sobre o histórico nebuloso da empresa no exterior.

Risco institucional e dano à imagem

Essa ligação com uma empresa manchada por corrupção internacional levanta questões graves. Não apenas sobre a moralidade das escolhas do governo paulista, mas também sobre a própria eficiência dessas contratações. Vale lembrar que obras como as do Metrô envolvem recursos públicos vultosos, longos prazos de execução e profundo impacto urbano e social. Qualquer irregularidade, portanto, compromete a credibilidade do Estado e onera diretamente o contribuinte.

Além disso, há risco institucional. O fato de o governador Tarcísio de Freitas ter sido ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro — período em que a OHLA também atuou em obras federais — reforça a necessidade de investigação sobre eventuais vínculos políticos com a empreiteira. Transparência é o mínimo exigido quando os contratos envolvem cifras bilionárias e interesses públicos cruciais.

Corrupção Governo Tarcísio: transparência em xeque

A insistência do governo estadual em manter parcerias com empresas envolvidas em escândalos internacionais acende um alerta vermelho sobre os critérios técnicos, jurídicos e éticos que norteiam essas decisões. O discurso liberal e de eficiência da atual gestão contrasta com a realidade de contratos fechados com empresas que respondem por crimes graves em outros países.

É hora de o Ministério Público, o Tribunal de Contas do Estado e os órgãos de controle interno atuarem com rigor. A população paulista merece explicações objetivas e ações corretivas imediatas. Afinal, o combate à corrupção não pode ser seletivo, muito menos ignorado quando envolve agentes políticos de peso.

Responsabilidade e dever público

O caso OHLA é mais do que uma denúncia de corrupção no exterior: é um espelho da responsabilidade que os gestores brasileiros precisam assumir ao firmar contratos internacionais. Governar é, acima de tudo, um ato de responsabilidade pública. Se o Governo Tarcísio deseja manter a confiança da sociedade, precisa romper com práticas duvidosas e adotar total transparência nas parcerias público-privadas.

*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.

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