*Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Cientista Político
Na primeira metade do século XX, o Comintern, ou Internacional Comunista, fundada por Lênin em 1919, representava um temor global, vez que visava a instalação do comunismo no mundo. Inesperadamente, no cenário contemporâneo, observa-se uma ameaça equiparável, mas de espectro diametralmente oposto: o avanço incontestável da extrema direita. Destacando-se em uma gama de nações, essa ideologia radica-se com um nacionalismo exacerbado, remanescente dos capítulos mais sombrios da história mundial, representado pelo fascismo e nazismo.
Ascensão e Conquistas Políticas
Diversos países, cada um com sua especificidade cultural e política, têm assistido à ascensão da extrema direita ao poder. De forma mais alarmante, essa onda não tem se limitado a nações com históricos recentes de inclinação conservadora. Pelo contrário, o fenômeno dissemina-se por democracias estabelecidas, revelando uma ruptura preocupante nas fundações da política internacional. Enquanto em vários países a extrema direita já ocupa o poder, em outras avança, como em Portugal e Espanha. Na França, por exemplo, sua aceleração está clara e evidenciada, enquanto na América Latina, paradoxalmente, sua vitória na Argentina sinaliza uma mudança de vento abrupta que pode acabar varrendo o subcontinente.
A Estratégia Uniforme da Extrema Direita
A homogeneidade estratégica da extrema direita é marcante, centrada na exploração de sentimentos nacionalistas e na oposição ao ‘outro’. Essa narrativa é reforçada pela hostilidade à imigração, pela xenofobia exacerbada e pelo apelo a valores tradicionais, frequentemente entrelaçados com discursos religiosos e morais. O mais alarmante é a tendência desses movimentos em minar as instituições democráticas, empunhando a bandeira da antipolítica enquanto avançam uma agenda autoritária sob o manto do populismo e do fundamentalismo religioso de vertente cristã.
As Plataformas Digitais Como Palco
Em um cenário tecnofeudal, as plataformas digitais emergem como arenas cruciais. Elon Musk, com sua postura ntipolítica, simboliza essa nova forma de influência – tanto econômica quanto ideológica. O comportamento dele em relação ao Brasil ecoa as práticas discursivas da extrema direita, marcadas por conteúdo polarizador e pela promoção de desinformação. A capacidade dessas plataformas de amplificar vozes extremistas e manipular o debate público representa um perigo latente à estabilidade democrática global.
A História se Repetirá?
O colapso do Comintern em 1943 marca um ponto de reflexão inevitável. A atual onda da extrema direita, embora em estágios iniciais, revela um padrão de crescimento que não pode ser ignorado. A análise desse fenômeno, por meio de uma perspectiva histórica, alerta para os riscos de um retrocesso social e político em escala global. As sombras do passado, parecem, portanto, não ter ensinado todas as lições necessárias.
Olhando Para o Futuro
É imprescindível, portanto, que a sociedade civil, as instituições democráticas e os atores políticos comprometidos com a liberdade e a igualdade estejam atentos e mobilizados. O combate ao avanço da extrema direita não é apenas um dever político, mas um imperativo moral que transcende fronteiras e ideologias específicas. A consolidação de um futuro em que liberdade e democracia prevaleçam dependerá enormemente da capacidade de reconhecer essas tendências autoritárias e combatê-las com vigor.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a prefeito de Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA