O CORINTHIANS NÃO ESTÁ À VENDA: SAF, ANTES DE TUDO, É UMA RENDIÇÃO

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Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Sócio do Corinthians desde 1982
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O clube é do povo, não do mercado

Participei de uma reunião no Corinthians que deveria tratar com seriedade o debate sobre a transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). No entanto, o que encontrei foi uma tentativa de impor um modelo que ignora a essência do Timão: sua origem popular, seu pertencimento ao povo e sua função social.

Ali, deixei claro meu posicionamento: Corinthians não está à venda: quem ama não transforma clube em ativo financeiro. A ideia de SAF pode seduzir pela promessa de dinheiro rápido e suposta gestão eficiente, mas o preço é alto demais. O que se entrega, em troca de cifras, é a alma do clube. É trocar história por planilha, torcida por balanço, arquibancada por lucro.

Corinthians não está à venda: quem ama não transforma clube em ativo financeiro

Durante a conversa, pediu-se garantia que aquilo seria a real solução. Alguns tentaram justificar a SAF com argumentos de fé: “temos convicção de que dará certo”. Tive de rebater imediatamente. Garantia e convicção não são sinônimos. Garantia é algo objetivo, é compromisso firmado com base em obrigações reais. Convicção é crença pessoal, subjetiva, e não se sustenta como base para entregar um patrimônio centenário.

Não podemos tratar o futuro do Corinthians com fé cega no mercado. Não se improvisa com identidade. SAF promete gestão, mas entrega submissão: do clube ao mercado, não à torcida. Não é uma questão de modernização, mas de abdicação.

SAF promete gestão, mas entrega submissão: do clube ao mercado, não à torcida

Outro ponto que escancara o absurdo da proposta é o conceito distorcido de democracia que apresentaram. Falaram em “equilibrar a democracia”, como se isso fosse uma equação financeira. Sugeriram que quem paga mais deveria ter mais direito. E, ao mesmo tempo, cogitaram excluir o Conselho Deliberativo – eleito democraticamente – substituindo-o por uma assembleia convocada ao sabor das conveniências.

Ainda tentaram dourar a pílula dizendo que a torcida seria “incluída” como dona, como se isso fosse um favor. A Fiel não precisa ser incluída: ela já é, sempre foi, a verdadeira dona do clube. É ela quem sustenta, quem vibra, quem chora e quem carrega o time nas costas em cada crise.

Transformar o Corinthians em SAF é desprezar essa história. É desconsiderar que a força do Timão vem do povo e não de capitalistas à procura de dividendos. O Corinthians nasceu como um ato de resistência popular. SAF é, antes de tudo, uma rendição.

Resistir é preservar o legado

SAF é atalho para dirigente preguiçoso: ao invés de enfrentar o sistema e buscar soluções sustentáveis, entrega-se o clube a investidores que pouco entendem da paixão que move o futebol. A dívida do clube pode e deve ser renegociada, com transparência, controle e participação da torcida. Mas a identidade do Corinthians não se coloca à mesa para negociação. Isso não tem preço.

O Corinthians não precisa de dono; precisa de transparência, democracia interna e respeito à história. Enquanto houver Fiel nas arquibancadas, não haverá espaço para franquias de magnatas.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.

Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de relatos pessoais e observações diretas feitas durante reunião oficial no clube, além de análises públicas sobre o modelo SAF no futebol brasileiro.”

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