Mosteiro da Luz: fé, técnica e o sentido de construir

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Às vésperas do Dia do Engenheiro Civil, recordo uma experiência que marcou minha vida não apenas pela lembrança, mas pela transformação que provocou. Vivi esse momento quando enfrentava um sério problema de saúde. Foi então que minha mãe, movida por uma fé simples e inabalável, me levou ao Mosteiro da Luz, em São Paulo.

A construção, projetada e erguida por Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, o primeiro santo brasileiro e padroeiro da construção civil, é um exemplo extraordinário de engenharia a serviço da vida. Frei Galvão não foi apenas um homem de fé — foi também um homem de obra. Com recursos escassos e técnicas rudimentares, construiu um mosteiro que atravessou séculos, resistiu ao tempo e continua de pé, sólido e acolhedor.

Ali, entre as paredes erguidas com simplicidade e precisão, compreendi que a engenharia é, antes de tudo, uma forma de fé aplicada. Cada cálculo, cada estrutura, cada decisão técnica carrega uma confiança silenciosa: a de que algo idealizado pode se sustentar, permanecer e servir às pessoas.

Quando recebi das mãos das Irmãs Concepcionistas da Luz — que vivem em clausura no Mosteiro — as famosas Pílulas de Frei Galvão, senti que aquele gesto resumia o que há de mais essencial tanto na fé quanto na engenharia: a entrega. Assim como as irmãs dedicam suas vidas ao ofício silencioso e preciso de confeccionar as pílulas, nós, engenheiros civis, dedicamos nosso trabalho à construção do que sustenta o cotidiano e o desenvolvimento humano.

O Mosteiro da Luz me fez pensar na engenharia como um campo que une cálculo e compaixão, técnica e propósito. Construir pontes, estradas, ferrovias ou edificações não é apenas executar um projeto — é criar condições para que a vida aconteça, é transformar o território, conectar pessoas e gerar movimento.

A engenharia civil, quando guiada por valores éticos e humanos, é uma das expressões mais concretas da esperança. Assim como Frei Galvão construiu com fé e engenho, acredito que cada engenheiro e engenheira tem a missão de erguer estruturas que resistam ao tempo — não apenas pela solidez do material, mas pela verdade e propósito que as sustentam.

Hoje, quando olho para o que já construí — nas obras, nas ideias e nas convicções — reconheço que a engenharia é também uma forma de oração: silenciosa, precisa e profundamente comprometida com o bem comum.

José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro Civil

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