Jose Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Urbanização acelerada e impacto ambiental
Com o avanço desenfreado da urbanização, os desafios envolvendo mobilidade urbana e aquecimento global se tornaram inseparáveis. As cidades, centros da vida contemporânea, concentram populações, atividades econômicas e, infelizmente, também as maiores taxas de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Com o transporte urbano respondendo por mais de 70% das emissões do setor de passageiros no Brasil, é evidente que o modo como nos deslocamos está no cerne da crise climática.
A conexão entre mobilidade urbana e aquecimento global
Atualmente, o setor de transportes representa cerca de 44% das emissões de CO₂ relacionadas à energia no Brasil. A maior parte dessas emissões vem de automóveis movidos a combustível fóssil. Em média, um automóvel emite mais de cinco vezes o CO₂ por tonelada-quilômetro útil por pessoa que um ônibus urbano. Em grandes centros como São Paulo, congestionamentos e deslocamentos ineficientes amplificam essa realidade, não apenas comprometendo a qualidade do ar, mas também exacerbando o aquecimento global.
Outro agravante é a remoção de áreas verdes para abrir espaço a vias urbanas, reduzindo a capacidade de absorção de CO₂ pela vegetação. Essa perda ecológica fecha um ciclo vicioso de mais emissões, menos absorção e maior superaquecimento urbano.
Soluções sustentáveis em curso
Para mitigar os efeitos da mobilidade urbana sobre o clima, cidades brasileiras e estrangeiras têm adotado soluções inteligentes. O fortalecimento do transporte público é uma delas. Sistemas com corredores exclusivos, como o de Curitiba, reduzem o tempo de deslocamento e aumentam a eficiência. Em 2024, o Brasil contabilizou 642 ônibus elétricos em circulação em 21 cidades, com destaque para São Paulo, que lidera a adoção.
Ao mesmo tempo, a eletromobilidade avança com força. Foram emplacados 177.358 veículos eletrificados em 2024 no país. Esse movimento, somado à instalação de pontos de recarga em mais de 13 mil cidades, mostra que a mudança está em curso, embora ainda insuficiente frente à urgência climática.
Cidades e cidadãos como agentes de mudança
O incentivo ao uso da bicicleta e à caminhabilidade também é essencial. Exemplos como Copenhagen e Bogotá mostram como a infraestrutura para pedestres e ciclistas transforma a dinâmica urbana. No Brasil, embora em ritmo lento, cidades como Fortaleza e Recife começam a seguir esse caminho.
Já o planejamento urbano integrado, com zonas de uso misto e alta densidade planejada, reduz a necessidade de longos deslocamentos. E tecnologias de gestão de trânsito, como semáforos inteligentes e sensores de fluxo, já operam em capitais como Belo Horizonte e Rio de Janeiro, otimizando o uso da infraestrutura viária.
Por fim, políticas de desincentivo ao uso do carro, como pedágios urbanos e restrições de estacionamento, podem alterar comportamentos. O sucesso dessas medidas, no entanto, depende de alternativas reais e eficientes para o deslocamento urbano.
Oportunidade de transformação urbana
A mobilidade urbana e o aquecimento global configuram uma das interseções mais críticas para o futuro das cidades. Mas também representam uma das maiores oportunidades de transformação. A transição para um modelo de transporte sustentável é não apenas necessária, mas inevitável se quisermos garantir qualidade de vida nas próximas décadas.
Governos, empresas e cidadãos têm papéis complementares nesse processo. Cabe a cada um exigir, apoiar e implementar soluções que priorizem o coletivo, reduzam as emissões e requalifiquem os espaços urbanos. A escolha de como as cidades se moverão é, no fim das contas, uma decisão sobre o tipo de futuro que queremos construir.
*José Manoel é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.
Declaração de Fontes:
As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir das seguintes fontes confiáveis e verificadas: Observatório do Clima, Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), CNN Brasil, CEBDS, ABVE, Canal VE, e dados oficiais de governos municipais.