*Por José Manoel F. Gonçalves
O presente artigo publicado no Jornal GGN, analisa os dilemas do governo Lula entre desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental
Economia dita o ritmo ambiental
Apesar de sua imagem internacional progressista e dos compromissos assumidos nos fóruns climáticos, o governo Lula parece caminhar na direção contrária àquela esperada por ambientalistas e cientistas. A encruzilhada entre crescimento do PIB e responsabilidade ecológica tem sido vencida, rotineiramente, pelo imediatismo econômico.
Recentemente, a proposta do Ministério da Fazenda de reduzir o repasse do Fundo Amazônia – medida que desagradou a ministra Marina Silva – expôs uma fissura já presente desde o início da gestão. A prioridade tem sido turbinar o PIB com grandes obras, como ferrovias e exploração mineral, mesmo que isso signifique comprometer compromissos ambientais assumidos com a comunidade internacional.
Tecnologia Avançada Inovação em risco
Projetos estruturantes que impulsionariam a transição ecológica, como o incentivo à economia verde, vêm sendo constantemente adiados ou subfinanciados. Programas de recuperação de biomas, energias limpas e descarbonização da produção perdem espaço diante da agenda fiscal e dos pactos com o agronegócio.
Além disso, os setores mais influentes do governo preferem defender um modelo desenvolvimentista clássico, onde “crescimento” ainda se traduz por infraestrutura pesada e concessões ambientais. Essa postura tem sido criticada inclusive por parte da base aliada, que enxerga nisso uma contradição entre discurso e prática.
Enquanto isso, iniciativas fundamentais como a taxação de carbono, o avanço da bioeconomia e a preservação efetiva de territórios indígenas seguem em compasso de espera.
A ecologia cede ao pragmatismo
Conforme o Brasil tenta manter seu protagonismo nos debates climáticos, os compromissos com a natureza vão sendo empurrados para segundo plano. A tensão interna entre ministérios é reflexo disso: de um lado, o Ministério do Meio Ambiente defende o fortalecimento de políticas verdes; do outro, a Fazenda prioriza metas fiscais e alívio no curto prazo.
O resultado é um governo dividido entre o compromisso com a “Tecnologia Avançada Inovação” e a submissão ao crescimento econômico tradicional. Essa tensão tem impactos diretos, inclusive, na imagem do Brasil junto aos países financiadores do Fundo Amazônia, que começam a cobrar coerência entre discurso e ação.
Tecnologia Avançada Inovação ou retrocesso ambiental
Apesar dos alertas vindos de estudos do IPCC e da ONU Meio Ambiente, o Brasil corre o risco de desperdiçar sua janela histórica para liderar a nova economia verde. Mais do que uma questão de imagem, trata-se de aproveitar vantagens competitivas naturais — como biodiversidade e matriz energética limpa — que poderiam tornar o país um polo global em soluções sustentáveis.
No entanto, enquanto o pragmatismo fiscal dominar as decisões estratégicas, dificilmente a promessa de um país comprometido com a “Tecnologia Avançada Inovação” deixará o papel. O risco é que, ao adiar medidas estruturais, o Brasil se veja excluído dos novos fluxos financeiros internacionais voltados à economia limpa.
Hora de decidir o futuro
A escolha está colocada: seguir presos ao velho paradigma ou construir uma alternativa sustentável e tecnologicamente avançada. A credibilidade climática do Brasil e sua capacidade de atrair investimentos verdes dependem de decisões que precisam ser tomadas agora — não depois que o mundo já tiver seguido adiante.
Ignorar esse desafio pode significar perder não apenas prestígio internacional, mas oportunidades reais de desenvolvimento sustentável e geração de emprego de qualidade.
José Manoel Ferreira Gonçalves – Engenheiro, advogado e jornalista