Mais um ato nocivo da atual gestão do CREA-SP à categoria dos engenheiros

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*José Manoel Ferreira Gonçalves

Com décadas de história e uma missão há muito tempo esquecida – a de representar os profissionais da Engenharia que atuam em São Paulo –, o CREA-SP é mesmo uma mina de ouro. Pelo menos deve ser assim que seus dirigentes atuais enxergam a entidade, a julgar pelo novo projeto milionário que a desacreditada diretoria do Conselho acaba de anunciar.

Como não conseguiu concretizar, em ritmo acelerado, uma permuta dos imóveis que pertencem ao CREA – o que seria algo desastroso para o patrimônio público sob os cuidados dos engenheiros e atenderia apenas a interesses que ainda não foram totalmente esclarecidos –, a atual gestão do autarquia anunciou mais um projeto “revolucionário” em seu balcão de negócios: um clube de benefícios e descontos.

Ignorando totalmente as atribuições e atividades que tradicionalmente e ainda hoje são exercidas pelos sindicatos da categoria, os atuais gestores do CREA anunciaram no site da instituição que a autarquia abriu o credenciamento para pessoas jurídicas e profissionais liberais interessados em prestar serviços aos profissionais registrados no Conselho.

A esses – indignados com a falta de representatividade e engajamento de seus representantes em questões como o aviltamento salarial e a falta de fiscalização no exercício da profissão –, a administração vigente do CREA acena com descontos nos tais serviços do clube.

Estamos, portanto, diante de uma evidente negociação de dados. As empresas que se credenciarem terão seus nomes divulgados no âmbito do CREA e o acesso privilegiado a um público qualificado para consumir seus produtos e serviços.

A pergunta que fica diante dessa iniciativa é: por que a direção do conselho dos engenheiros se dedica tanto a ações que geram valor econômico e deixa de cumprir com suas funções mínimas e obrigatórias de fiscalização?

Na última campanha eleitoral para a presidência do CREA, ao lado dos companheiros da oposição ao grupo que vai se perpetuando à frente do Conselho, demonstramos que é possível fazer uma administração voltada para os interesses reais dos engenheiros sem a cobrança obrigatória da anuidade.

Por que então esse grupo que hoje comanda o CREA continua insistindo em ações que visam única e exclusivamente o acúmulo de receitas, que, a julgar pelo descontentamento da categoria, não estão sendo direcionadas adequadamente para o favorecimento e fortalecimento dos profissionais?

Não é função do CREA distribuir benesses e se tornar um hub comercial.

Do ponto de vista jurídico, somos contra essa iniciativa, uma vez que não é função do CREA/SP organizar clube de descontos, e a instituição só deve agir nos termos de suas funções previstas em lei.

Portanto, ingressamos com uma ação contra mais esse despropósito tornado público pela gestão vigente do CREA.

Essa contestação não é um mero preciosismo jurídico: estamos tornando pública a grave deformação que se processa no Conselho sob a atual diretoria, que insiste em fazer com que o CREA descumpra suas funções e invada competência de associações e sindicatos da engenharia.

Ficaremos atentos aos desdobramentos desse assunto, em defesa da ética, da transparência, da democracia e, principalmente, do resgate do papel histórico do CREA-SP.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é mestre e doutor em engenharia, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, integrante do Engenheiros pela Democracia e presidente da Ferrofrente e da Aguaviva, Associação Guarujá Viva.

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