Apresentação de Edward Ferreira Filho
O progresso e as novas necessidades do homem já quase suprimiram do cotidiano brasileiro o velho carro de boi e os carroções. Em breve esses existirão somente nos registros literários e históricos, o que é
natural, fruto da adaptação. Não daria mesmo para imaginar, nos dias atuais, que a pujante economia e circulação de riquezas num país de dimensões continentais, ainda se fizesse por veículos de tração animal − sem contar os maus tratos impingidos aos bravos cavalos e bois. Mas, como não poderia ser diferente, também nas extremidades dos desenvolvimentos tecnológico e científico os problemas se apresentam, exigem reflexões e, por vezes, soluções rápidas e mudanças de cursos. Os modernos carros e caminhões, embora não sulquem os caminhos, porque com rodas cada vez mais balanceadas e atraentes, deixam grave rastro invisível e letal de gases e demais substâncias poluentes.
Há décadas, como se sabe, o Brasil tem priorizado investimentos e empenho político visando a ampliação e manutenção da malha rodoviária, estímulo que levou a um sensível incremento da frota nacional. Esse
fenômeno soava natural para uma nação detentora de fontes de recursos ambientais e em franco crescimento econômico e populacional. No entanto, em tempos de indeclinável busca de sustentabilidade ambiental dos meios de produção e dos padrões de consumo, inclusive para uma inserção competitiva no cenário econômico global, a discussão do modelo de transporte de cargas no país torna-se inadiável.
Diante de tal quadro, cai como uma luva esta obra Despoluindo Sobre Trilhos, que de maneira contextualizada traz à baila questões imbricadas com a nossa matriz energética, nela considerado o modal de transporte rodoviário de cargas e suas contribuições nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), pontuando, ainda, alguns dos reflexos de natureza econômica do modelo atual, formulando proposições estimuladoras.
Seu autor, José Manoel Ferreira Gonçalves, detentor de raros talentos, sem descurar dos ideais de ética que sempre nortearam o Ambientalista, disponibiliza ao leitor a experiência e visão do Engenheiro Civil, com o cuidado do profissional do Direito e a comunicação fácil do Jornalista, informações e reflexões sobre temas de profunda interação com a vida das pessoas no único planeta habitável, ou ainda habitável.
O livro, embora concebido com o claro propósito de discutir o modelo do transporte de cargas no Brasil, especialmente para tratar da coleta e remoção do açúcar a granel e dos contêineres para o porto de Santos-SP, com vistas a exportações, atrai, também, pelo passeio dinâmico interdisciplinar que lhe confere estrutura e densidade, tornando sua consulta rica e de extrema utilidade.
Com adequada metodologia e abordagens sinceras, sempre escorado em fontes confiáveis de pesquisa, o autor conduz às conclusões que apontam os inexoráveis efeitos perturbadores das atividades humanas no planeta, sobretudo, daquelas que tangem com a delicada equação formadora da atmosfera terrestre (Nitrogênio 78%; Oxigênio 21%; Argônio 0,93%). E a preocupação torna-se acentuada quando se verifica que o transporte rodoviário representa de 23% a 25% de todas as emissões de CO2 no Planeta, que, por sua vez, têm previsão de um incremento de 40% em 20 anos. Aumento esse experimentado desde o final do Século XVIII, pelos efeitos colaterais da chamada Revolução Industrial, principalmente em face da extraordinária explosão demográfica e crescente demanda energética por produtos e serviços voltados ao conforto e às realizações do homem (hoje, a cada mês o planeta é “bombardeado” com mais de 7 milhões de novo s seres humanos).
No Brasil, mais de 50% de toda a carga circulante é transportada pelo modal rodoviário, grande emissor de CO2, especialmente quando comparado aos modais ferroviário e/ou aquaviário. E mais da metade do
transporte de contêineres e açúcar a granel para o porto de Santos-SP, dada a capilaridade dos pontos produtores e extensão territorial, mesmo considerado só o Estado de São Paulo, ainda é feito por rodovias.
Considerando que 40% do nosso açúcar é exportado através do porto de Santos-SP, além de outras cargas e, considerando, ainda, a fadiga do sistema rodoviário, com constantes congestionamentos de caminhões rumo ao embarque, urgentes ações precisam ser desenvolvidas para potencialização das conexões entre os modais rodoferroviários, com redução significativa de gases de efeito estufa e ganhos de competitividade, tudo conforme discute, sinaliza e propõe o presente livro.
Para concluir, é com prazer que apresento ao público esta obra, que devido à envergadura e didática de seu autor, constitui-se em trabalho de consulta indispensável para todos que queiram se informar, cientificamente, sobre as questões ambientais e econômicas de um sistema de transporte de cargas.
Parabéns ao autor, Editora e público!
Edward Ferreira Filho
Promotor de Justiça em São Paulo