José Manoel Ferreira Gonçalves
(Engenheiro, advogado e jornalista)
Violência em plena orla
Às vésperas da alta temporada de verão, a insegurança volta a preocupar moradores e turistas no Guarujá. No último domingo (15), um homem foi atacado na praia de Pitangueiras, na região central da cidade. Imagens mostram a vítima sendo derrubada por um grupo de pelo menos oito pessoas, que rasgaram sua bermuda e roubaram seus pertences.
A Polícia Civil, que ainda busca identificar os responsáveis, revelou que a vítima não registrou boletim de ocorrência. O episódio ocorreu a poucos metros de áreas movimentadas e reforça a percepção de vulnerabilidade em uma das cidades mais visitadas do litoral paulista.
Medidas emergenciais são exigidas
O caso provocou reações imediatas. A associação Água Viva, representante dos moradores, acionou a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal (GCM) em busca de providências. Entre os pedidos estão o aumento do policiamento ostensivo e preventivo, além de orientações práticas para moradores e turistas sobre como proceder em situações de risco.
“Este evento despertou grande preocupação entre os moradores e visitantes, que se sentem inseguros em circular pelas áreas centrais da cidade”, destacou José Manoel Ferreira Gonçalves, presidente da associação, em ofício enviado às autoridades.
Operação Verão e desafios
O incidente ocorreu pouco antes do início da Operação Verão da Polícia Militar, que começou nesta segunda-feira (16). Com um reforço de 2.000 policiais no litoral paulista, 444 deles atuarão no Guarujá até março. Apesar do aumento do efetivo, eventos como o ocorrido mostram que a alta temporada impõe desafios únicos às forças de segurança.
Os resultados da última Operação Verão, entretanto, geram preocupações. Apesar do investimento em efetivos e equipamentos, a operação revelou falhas graves, como o aumento de 12% nos crimes patrimoniais e a abordagem violenta que resultou em diversas denúncias de abusos por parte das forças de segurança. Essas falhas destacam a necessidade de um combate ao crime baseado em técnica e estratégia, não em respostas violentas que apenas agravam o cenário de insegurança.
Além do trabalho da Polícia Militar, a Prefeitura do Guarujá inicia no sábado (21) sua própria Operação Verão de Fiscalização. A iniciativa prevê 100 agentes municipais para coibir irregularidades nas praias, como o uso de caixas de som, proibido desde 1998. No entanto, a administração municipal lembra que a segurança pública é uma atribuição constitucional do estado, mesmo investindo anualmente R$ 4,4 milhões em apoio operacional.
Um alerta ao litoral paulista
Não se trata de um episódio isolado. No mesmo dia, um Papai Noel e seus ajudantes foram assaltados no bairro Parque Enseada. As imagens dos crimes, amplamente divulgadas, expõem as falhas na proteção dos cidadãos e aumentam a pressão sobre as autoridades.
Com a temporada de verão, espera-se que as ações de policiamento preventivo e ostensivo sejam intensificadas. No entanto, é fundamental que as vítimas registrem as ocorrências para subsidiar as estratégias de segurança. Como reforçou a Secretaria de Segurança Pública, o boletim de ocorrência é essencial para o monitoramento dos índices criminais e o planejamento das operações.
Violência de ambas as partes é condenável
Em paralelo às ações de criminosos que amedrontam as comunidades, um outro fato chocante (entre muitos outros) veio à tona: a imagem de um cidadão sendo covardemente arremessado de uma ponte por policiais. Este ato, cometido por aqueles que deveriam proteger, é igualmente revoltante e nos deixa diante de uma reflexão profunda. Delinquir em nome da lei é ainda mais repugnante, mas isso não nos tira o amargor de ver a cena do cidadão arremessado no asfalto, uma violência desumana que agrava o estado de degradação social.
Ambos os casos, o ataque covarde de marginais contra a população e a brutalidade policial contra um cidadão, são absolutamente condenáveis. Um não pode jamais justificar o outro. O que precisamos não é de uma polícia criminosa em nome de combater o crime, nem de uma polícia “boazinha” que feche os olhos à realidade. Precisamos de uma política da paz, de uma educação para a paz, e de um ambiente que favoreça a convivência pacífica.
Uma cultura da paz requer investimento em educação, na criação de oportunidades e respeito aos direitos humanos. Isso significa implementar programas que ensinem a resolução de conflitos sem violência, ampliar o acesso à educação de qualidade e fortalecer os laços comunitários para criar ambientes que desestimulem a violência, seja de criminosos ou de agentes do Estado. Somente com essa base sólida podemos reverter a espiral de insegurança que corrói a sociedade brasileira.
A violência, seja dos bandidos ou da polícia, está corroendo nossa sociedade, impedindo o desenvolvimento econômico e, acima de tudo, roubando nossa humanidade. A solução não virá de respostas violentas ou de indiferença, mas de um compromisso coletivo com a construção de uma sociedade mais justa, segura e humanizada.
Um passo para restaurar a segurança
Garantir um verão seguro para moradores e turistas no Guarujá demanda uma resposta coordenada entre os diversos níveis de governo. A rápida identificação e responsabilização dos envolvidos nesses crimes são passos essenciais para restaurar a confiança da população.
Declaração de Fontes:
As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de dados publicados pela Folha de S.Paulo e declarações oficiais das autoridades locais.