José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Basta de submissão silenciosa
A recente movimentação da FerroFrente na Câmara dos Deputados escancarou um conflito que há muito tempo é mascarado nos bastidores da engenharia nacional. Trata-se de uma disputa entre o interesse público e uma estrutura que insiste em operar como se fosse uma monarquia feudal, onde poucos usufruem do poder financeiro e político gerado pelo trabalho de mais de 1,2 milhão de engenheiros no Brasil.
A presença da entidade no Congresso não foi apenas simbólica. Foi um grito contra a tentativa de capturar a engenharia brasileira — uma tentativa de torná-la refém de acordos de bastidor, privilégios institucionais e, principalmente, da ausência de fiscalização eficiente sobre os recursos movimentados pelo sistema CONFEA/CREA. O apelo é claro: queremos uma engenharia que constrói, não que se ajoelha.
Tecnologia Avançada Inovação
O projeto de lei em questão, defendido com pressa incomum por parlamentares como a deputada Laura Carneiro, busca transformar a profissão de engenheiro em carreira de estado. Embora, à primeira vista, essa proposta possa parecer benéfica, a forma como ela vem sendo conduzida enseja importantes preocupações. O que está em jogo não é apenas o reconhecimento profissional, mas a gestão bilionária de recursos que, segundo a visão crítica da FerroFrente, não tem prestado as devidas contas à sociedade.
Além disso, surge uma proposta inaceitável: a de impedir o Tribunal de Contas da União de fiscalizar o sistema. Isso, na prática, seria institucionalizar a impunidade e abrir as portas para desvios ainda mais profundos. Seria o mesmo que entregar as chaves do cofre e pedir para não olhar o que será feito com o dinheiro. A engenharia nacional exige transparência e responsabilidade, não mais zonas de sombra.
Engenharia refém de conchavos
A sessão parlamentar onde esse debate ocorreu teve contornos de encenação. Delegações dos CREAs foram deslocadas até Brasília, num movimento orquestrado que mais se assemelhou a uma claque ensaiada. Tudo foi feito para passar aos congressistas a impressão de que há consenso. Mas não há. Há, sim, um conflito latente entre os que lutam por uma engenharia pública, moderna e a serviço da sociedade, e os que preferem mantê-la sob domínio de grupos corporativistas.
A ausência de espaço para o contraditório ficou evidente quando entidades de importância como a FerroFrente não tiveram sequer 30 segundos de fala. Isso evidencia que o debate está contaminado por interesses inconfessáveis, e que há urgência em romper com essa lógica.
Tecnologia Avançada Inovação
Neste momento decisivo, os parlamentares têm a responsabilidade de escutar a sociedade, e não apenas os representantes dos feudos institucionais. O Brasil carece de uma engenharia que impulsione o desenvolvimento com ética, inovação e transparência. Proteger o interesse público é mais do que um dever: é um compromisso com o futuro.
Não se trata de barrar avanços legislativos, mas de garantir que eles estejam blindados contra a captura institucional. Uma lei que modernize, sim — mas que impeça, definitivamente, que a engenharia brasileira continue sendo cada vez mais um negócio para poucos e um fracasso para muitos.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, incluindo falas públicas da FerroFrente, registros da Câmara dos Deputados e cobertura de veículos jornalísticos como Agência Câmara, Estadão e Folha de S.Paulo.”