*José Manoel Ferreira Gonçalves
[Candidato a prefeito do Guarujá, pelo PSOL]
As eleições para prefeito do Guarujá deste ano revelam, de forma cruel, uma das maiores distorções do sistema político atual: o poder esmagador do dinheiro na política. Os dados mais recentes da campanha trazem um retrato desolador de uma disputa em que os recursos financeiros parecem ser o principal fator de decisão, marginalizando candidaturas que, mesmo com grande potencial de mudança, enfrentam gigantescos obstáculos impostos pelo poder econômico. Uma campanha eleitoral que deveria ser pautada em propostas e soluções para os problemas da cidade torna-se uma batalha de cifras, o que fortalece os grupos que já dominam o cenário político e afasta ainda mais a população da política de qualidade.
A desigualdade nas doações de partido
Se analisarmos as doações de campanha, os números são alarmantes. Entre os principais candidatos, destacam-se aqueles que recebem doações milionárias de seus partidos. Farid (PODE), por exemplo, recebeu R$ 1.000.000,00, enquanto Pepe (PSB) angariou impressionantes R$ 1.300.000,00. Com tais recursos, essas campanhas podem se expandir em propagandas, eventos, materiais gráficos e demais estratégias que aumentam sua visibilidade.
Por outro lado, observamos candidaturas como a de Zé Manoel (PSOL), que recebeu modestos R$ 4.347,83. A discrepância é assustadora: enquanto alguns candidatos desfrutam de fortunas, outros mal conseguem o básico para se manter na disputa. Essa disparidade financeira se traduz em desvantagens claras, dificultando o acesso de candidaturas populares a espaços de mídia, debates e material publicitário.
Como o dinheiro impacta a intenção de voto
A relação entre os recursos financeiros e a intenção de voto também é evidente. Farid, com seus R$ 1.000.000,00, lidera as intenções de voto com 37,90%. Pepe, que recebeu R$ 1.300.000,00, possui apenas 3,10% das intenções de voto, o que mostra que, embora o dinheiro ajude, ele não garante, por si só, o sucesso eleitoral. Nicolaci (PL), com R$ 300.000,00, tem 17,20% das intenções, enquanto Vitello (PP), com R$ 600.000,00, possui 12,20%. Isso prova que há uma relação direta entre financiamento e visibilidade, mas também deixa evidente que o dinheiro por si só não é suficiente para conquistar eleitores.
Os recursos financeiros, claramente, permitem que candidaturas mais abastadas invadam os meios de comunicação, multipliquem eventos e ocupem espaço no debate político, mas o eleitor, por sua vez, ainda não se deixa enganar completamente.
A verdadeira métrica: o rendimento da campanha
Entretanto, se olharmos de perto os números, a análise do rendimento da campanha, ou seja, o quanto cada real investido gera em termos de intenção de voto, revela uma perspectiva ainda mais interessante. A campanha de Zé Manoel (PSOL), que recebeu a menor quantia de doação (R$ 4.347,83), apresenta um rendimento impressionante de 363,64%. Comparando, a campanha de Farid (PODE), mesmo com seus R$ 1.000.000,00, apresenta um rendimento de 150,22%, e Pepe (PSB), com seus R$ 1.300.000,00, tem um pífio rendimento de 9,45%.
Essa análise revela algo crucial: por mais que o dinheiro seja um fator importante na disputa, ele não é a única variável. O rendimento de Zé Manoel mostra que sua campanha é, de fato, a mais eficiente. Com pouquíssimos recursos, ele consegue converter cada centavo em votos de maneira superior aos outros candidatos, provando que existe uma demanda real por mudança e por uma política mais próxima da população.
O papel da sociedade na superação desse abismo
Se há algo que os dados deixam claro é que, em uma disputa eleitoral tão desigual, quem perde é a população. As campanhas bilionárias de partidos tradicionais não se conectam com as reais demandas dos cidadãos. Ao contrário, servem para perpetuar um sistema em que os poderosos mantêm-se no poder, afastando candidaturas que poderiam trazer mudanças reais.
A falta de recursos impede que candidatos com propostas autênticas e inovadoras cheguem ao grande público. Isso é, sem dúvida, uma distorção que enfraquece a democracia, pois afasta o debate político dos reais interesses da população. Não é apenas lamentável, é uma questão estrutural que precisa ser enfrentada pela sociedade.
A perpetuação desse ciclo em que “quem tem mais dinheiro, manda” enfraquece a participação popular e gera apatia. E isso é o que os grandes grupos políticos e econômicos desejam. Quanto mais a população perde direitos, respeito e atenção, mais esses grupos se fortalecem. A manutenção do status quo depende, em grande medida, da perpetuação desse desequilíbrio.
O desafio de mudar esse cenário
O caso da campanha de Zé Manoel é emblemático. Como candidato do PSOL, ele enfrenta a máquina eleitoral com pouquíssimos recursos, mas com uma campanha que rende muito mais que a dos adversários. Mesmo com apenas 0,40% das intenções de voto, o rendimento de sua campanha é o mais alto de todos. Isso indica que, com mais apoio e visibilidade, essa candidatura poderia transformar o cenário eleitoral de forma significativa.
A pergunta que surge é: até quando a política será dominada por quem tem mais dinheiro? Até quando campanhas populares, conectadas com as necessidades reais das pessoas, serão sufocadas por partidos que despejam milhões em propaganda e eventos? A solução para essa crise não virá do topo, mas da própria sociedade, que precisa urgentemente repensar o modelo de financiamento de campanhas e o papel do dinheiro nas eleições.
Uma mensagem de resistência
A situação catastrófica revelada pelos números é apenas mais um sintoma de um problema muito maior, que vai além da campanha eleitoral do Guarujá. O Brasil precisa repensar urgentemente o peso que o dinheiro tem na política, sob o risco de continuarmos presos em um ciclo vicioso em que poucos se beneficiam às custas da maioria.
Ainda assim, há esperança. A campanha de Zé Manoel (PSOL) mostra que, mesmo com poucos recursos, é possível fazer uma política diferente, eficiente e conectada com a população. O caminho pode ser difícil, mas, com apoio e conscientização, a mudança é possível.
Declaração de Fontes:
“As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de análise da tabela de doações e desempenho dos candidatos à prefeitura do Guarujá.”
Quem é José Manoel?
José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública.
Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá.
Em 2024, José Manoel concorre à Prefeitura de Guarujá, a cidade que o acolheu e que ele defende com incansável dedicação.