De quem é o CREA, afinal?

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*Eng. José Manoel Ferreira Gonçalves

Truculência, arbitrariedade e falta de transparência. Quem poderia imaginar que o CREA de São Paulo se tornaria exemplo de todas essas perversas distorções no sistema representativo de uma categoria tão importante como a dos engenheiros?

Nos últimos dias 02 e 03 de março, fui impedido de acompanhar duas plenárias públicas que transcorreram no prédio do CREA na avenida Angélica, em São Paulo, conforme direito de qualquer profissional registrado no Conselho, com tranquilidade e presencialmente. 

No dia 02, fui abordado por funcionária do CREA, cujo nome foi identificado e informado às autoridades. No dia seguinte, outra pessoa me abordou agressivamente e se interpôs à minha presença na reunião. Esse homem não se identificou e parece não ter qualquer histórico de ligação com a entidade, inclusive não sendo profissional da Engenharia.

Sofri flagrante obstrução de acesso a entidade pública da nossa categoria profissional, que é uma prerrogativa de nosso direito líquido e certo, de livre circulação em ambiente destinado ao público. Além disso, há tradição na livre participação, fato comprovável por documentos e testemunhas. Ressalto ainda a total ausência de proibição para o acesso devidamente comunicada, seja no site do próprio CREA ou nos espaços de atendimento e recepção das duas seções referidas. 

Destaco ainda a falta de motivação explícita do impedimento ao acesso, desrespeitando o direito a estar presente no interior do ambiente da sessão. Em resumo, entre todos os pontos observados, é preciso registrar, de forma clara, que os abusos cometidos também significam um ato contra a democracia de forma geral e em especial no sistema CONFEA-CREAs.

Lamento, inclusive, a utilização absurda de pessoas utilizando jaleco de imprensa e filmando a minha presença no recinto que me foi destinado como sendo sala de ex-conselheiros do CREA. Não havia sala nenhuma, nem profissional de imprensa. Tratava-se de uma filmagem abusiva, não autorizada, para me intimidar e constranger, deslocando a câmera até mesmo às proximidades da porta de acesso ao banheiro ao qual me dirigi.

Tal fato não é uma surpresa para quem acompanha a triste trajetória do CREA nos últimos anos. Os desmandos e irregularidades do Conselho são tão flagrantes que já se tornaram até tema de livro. 

A pergunta que fica após mais esse lamentável episódio é: De quem é o CREA, afinal? De todos nós profissionais, ou de grupos que se utilizam da instituição com procedimentos reprováveis, inconfessáveis e, sobretudo, injustificáveis. 

Nesse episódio temos uma síntese dos graves abusos cometidos pela atual direção, que está há anos infelicitando a instituição. Ao me barrarem, passaram a senha do que pensam e agem.

Seguranças mal orientados, a agir de forma absurda, são os representantes diretos do grupo que assaltou e sequestrou nossa instituição, mas não nossa indignação e enfrentamento, dentro dos limites da lei. Eles não conseguirão assaltar nosso presente e aprisionar a chama inapagável da esperança e dos sonhos das nossas categorias e de cada profissional.

Podemos alterar isso? Claro. Como?

O primeiro passo é perceber que devemos ser os protagonistas da nossa instituição. Cada profissional tem um papel singular e um compromisso nessa caminhada cívica.

A vontade de mudança, a reconstrução da engenharia e da nação superarão esse deserto.

Vamos continuar resistindo e denunciando. Não vão nos calar jamais! Vamos passar a limpo e colocar o CREA nos trilhos de vez, em benefício da sociedade e de todas as categorias profissionais, no contexto do efetivo e relevante interesse público. 

*Prof. Dr. Eng. José Manoel Ferreira Gonçalves

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