José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Um momento que exige clareza e coragem
O Sport Club Corinthians Paulista atravessa um dos períodos mais turbulentos de sua história política recente. Às vésperas da reunião do Conselho Deliberativo que pode decidir pelo andamento de um dos dois pedidos de impeachment contra o presidente Augusto Melo, cresce o debate entre torcedores, sócios e conselheiros sobre o rumo do clube. Em meio à pressão, é fundamental refletir com serenidade: o que está em jogo não é apenas a liderança de Melo, mas o futuro institucional do Corinthians.
Dois processos estão em pauta. O primeiro envolve a controversa parceria com a empresa de apostas VaideBet, alvo de suspeitas quanto à destinação de comissões pagas durante o acordo. O segundo refere-se à rejeição das contas do atual mandato. Ambos têm natureza política — e não jurídica — como é típico em processos de impeachment, o que reforça a necessidade de critérios justos, análise fria dos fatos e responsabilidade com o clube.
O momento exige reflexão institucional
O ponto central das denúncias gira em torno da comissão recebida por intermediários no contrato com a VaideBet. Segundo apuração do jornalista Rodrigo Vessoni, do site Meu Timão, uma parte dessa comissão teria sido desviada a um suposto “laranja”, o que originou investigações policiais. Porém, até o momento, não há provas de que qualquer dirigente do Corinthians tenha recebido dinheiro de volta ou cometido ato ilícito. O Conselho de Ética, inclusive, recomendou cautela, sugerindo que não se avance com o impeachment antes da conclusão do inquérito. É uma postura sensata: não se deve condenar ninguém sem provas claras e definitivas.
Vale lembrar que comissões em contratos de marketing são práticas comuns no futebol profissional. O que precisa ser investigado é a lisura dos intermediários, e não o clube em si. Criminalizar o Corinthians por ações externas é desonesto e atinge a reputação da instituição de forma injusta.
Desenvolvimento e legado político recente
Há ainda um fator crucial e pouco debatido: a volta da antiga diretoria em caso de impeachment. O grupo político que dominou o clube por quase duas décadas, responsável por uma dívida bilionária e escândalos recorrentes, poderá retomar o poder. A chapa Paixão Corintiana, que se opõe a esse retrocesso, busca consolidar uma
mudança profunda na forma de gestão. Augusto Melo, apesar das críticas, representa um novo modelo, mais transparente e com maior participação da base associativa.
Sob seu comando, o clube promoveu reformas administrativas, reduziu gastos e tentou renegociar dívidas. A tentativa de derrubá-lo antes do término do inquérito soa como uma manobra de bastidores para sabotar o processo de renovação interna.
A hora é de coragem coletiva
Neste cenário, cabe ao Conselho Deliberativo agir com responsabilidade histórica. Aprovar um impeachment sem provas cabais enfraqueceria ainda mais as instituições do clube e abriria espaço para a volta de práticas já repudiadas pela maioria dos torcedores. A defesa do Corinthians não pode ser confundida com a defesa cega de um dirigente, mas também não pode ignorar avanços por medo de enfrentar pressões políticas.
O subtítulo A hora é de coragem coletiva” — resume a encruzilhada do clube: ou se cede ao caos institucional ou se constrói um futuro mais justo, mesmo diante das dificuldades.
Não se joga a história pela janela
Por tudo isso, defender a continuidade de Augusto Melo até que os fatos sejam apurados não é um ato de conivência, mas de justiça e responsabilidade. Que os conselheiros, e futuramente os associados, votem com a consciência de que estão decidindo o futuro do Corinthians, e não apenas o destino de uma gestão.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá. Membro do Conselho Deliberativo da EngD
Declaração de Fontes: As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis e verificadas, incluindo os portais Meu Timão, GE.globo, UOL Esporte e ESPN Brasil.