José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Alerta Máxima Sobre Recursos Públicos
O CREA/SP entrou em um labirinto administrativo que já dura seis anos e ameaça transformar a construção da nova sede em mais um escândalo de gestão pública. Desde a decisão de 2019, o órgão vem demonstrando incapacidade de conduzir uma obra de forma planejada, transparente e econômica. Hoje, com orçamento estimado em R$ 170 milhões, a obra corre risco real de se tornar um exemplo clássico de desperdício e favorecimento de interesses internos.
No dia 16 de setembro de 2025, após notificação do Tribunal de Contas da União, o edital da última licitação foi suspenso. E por boas razões: a dispensa de uma proposta R$ 24 milhões mais barata levanta dúvidas graves. Quem se beneficia com a escolha de uma proposta mais cara? Por que a diretoria ignora a competitividade, essencial para garantir preço justo? A resposta ainda não veio, mas os indícios são claros: a prioridade não é a eficiência, mas outros interesses.
Falha na Ética e na Legalidade
As irregularidades não param aí. Editais com imprecisões, restrições à participação de concorrentes sérios e atrasos recorrentes mostram um padrão preocupante. Recursos arrecadados compulsoriamente dos profissionais da engenharia estão sendo tratados de forma negligente, expondo a entidade ao risco de falha ética e legal. O CREA/SP, que deveria ser referência em planejamento e fiscalização, hoje se assemelha a uma obra pública paralisada, famosa por consumir milhões sem entregar resultados.
Um Espelho de Outras Tragédias Públicas
Casos de obras paralisadas no Brasil, como a ampliação do Hospital de Base em Brasília ou a duplicação da BR-101, mostram que atrasos e custos inflados não são apenas erros técnicos, mas muitas vezes consequência de gestão deficiente e interesses mal direcionados. O CREA/SP, com orçamento anual de quase R$ 500 milhões, não pode repetir essas falhas. Cada R$ investido na nova sede deve ser transparente, auditável e direcionado exclusivamente à eficiência e à funcionalidade.
O Risco do Silêncio e da Inação
A diretoria insiste em um processo que dificulta a competição e ignora propostas mais econômicas. Enquanto isso, os profissionais da engenharia aguardam respostas, vigilantes. Denúncias já foram apresentadas, ações populares propostas, mas sem pressão externa, a tendência é que a obra se arraste, consumindo cada vez mais recursos. O silêncio diante de irregularidades não é neutro: é cúmplice.
Exigência Urgente de Transparência e Ética
Construir uma sede moderna, eficiente e acessível ainda é possível. Mas só se houver mudanças radicais: licitação transparente e competitiva, fiscalização rigorosa e compromisso ético absoluto. Sem isso, o risco é alto: milhões desperdiçados, reputação da entidade comprometida e mais uma obra parada para a história do desperdício no país.
O CREA/SP tem a chance de provar que é capaz de mais do que burocracia e interesses internos. Mas essa prova depende da vigilância dos profissionais da engenharia e da cobrança firme da sociedade. O momento exige ação, clareza e responsabilidade. Cada dia de atraso e cada decisão questionável custam caro, e não é apenas dinheiro: é confiança que se perde.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.
Declaração de Fontes: As informações deste artigo foram obtidas a partir de publicações do portal nacional de contratações públicas, comunicados oficiais do CREA/SP, matérias jornalísticas especializadas em administração pública e levantamentos de obras paralisadas no Brasil.