CREA de São Paulo trata eleição como referendo

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*José Manoel Ferreira Gonçalves

As eleições do sistema Confea CREAS se aproximam, mas quem acessa o portal destas autarquias públicas precisa se esforçar muito para encontrar alguma notícia a esse respeito. Isso quando o próprio site não está fora do ar, como aconteceu recentemente, após um ataque hacker que atingiu todo o sistema do CREA-SP, numa ação que chega a ser humilhante para aqueles que, entre seus atributos, deveriam ser os guardiões dos dados de uma parte considerável da Engenharia brasileira.

Uma vez que as eleições, marcadas para novembro, serão virtuais, preocupa-nos sobremaneira o despreparo tecnológico do sistema, o que no frigir dos ovos poderá ser uma bela e providencial cortina de fumaça para eventuais irregularidades na apuração.

Mais preocupante ainda é o silêncio sobre as eleições.

Não há nenhuma campanha informativa mais ampla em andamento sobre este momento tão importante de decisão democrática do futuro de segmento sensível da engenharia nacional.

Seja em rádio, tevê ou mesmo jornais e publicações dedicadas à categoria, o que se vê são propagandas antecipadas ilegais com a divulgação de eventos muito menos relevantes e até mesmos desnecessários. O que deveria ser uma prioridade, uma obrigação – alertar, conscientizar, chamar, incentivar o profissional registrado sobre seu direito de votar e escolher seus representantes – é tratado com enorme descaso, em mais uma demonstração das fragilidades do processo eleitoral e da falta de transparência recorrente de forma geral no sistema e, em especial, na atual gestão do CREA paulista.

Recursos financeiros para a divulgação das eleições existem. Mordomias absurdas desfrutadas por parte da diretoria do Confea, com o apoio do CREA-SP, como viagens para o exterior, estão mantidas, bem como gastos com hospedagem, alimentação e transportes de apoiadores de todo o país, dentro da bolha que sustenta o sistema à beira do colapso. Além disso, são providenciadas, com velocidade e voracidade, contratações extraordinárias e dispendiosas, que, aliás, nunca deixaram de ser feitas, inclusive o inexplicável contrato de escritório de advocacia para o acompanhamento das… eleições.

Que tipo de complicação jurídica está sendo aguardada até novembro, é a pergunta que devemos fazer sobre esse episódio preparatório por parte dos ocupantes do poder no CREA-SP.

Enquanto isso, a letargia prevalece no esclarecimento sobre a primeira eleição virtual do sistema em todo o país.  Para se ter uma dimensão da amplitude, somos cerca de 350 mil engenheiros registrados em São Paulo e mais de 1 milhão e 200 mil em todo o país. Cabe lembrar que nas últimas eleições, há três anos, no auge da pandemia, lutamos com todas as nossas forças para que as eleições naquele difícil momento fossem já à época virtuais, como medida de segurança sanitária, e essa mesma gestão que hoje permanece à frente do sistema Confea CREAS negou aos profissionais essa possibilidade, afrontando a vida e a saúde pública para, dessa forma, desmotivar o comparecimento às urnas.

Não é de hoje, portanto, que o tratamento que se dá às eleições para escolha do presidente e para os cargos representativos, todos de grande importância no âmbito dos Conselhos regionais em todo o país, é o de como fosse uma espécie de referendo morno e desinteressante. E isso propositalmente, é claro. A credibilidade desse processo eleitoral, se continuar viciado e meramente burocrático, será nula.

Sob essa perspectiva, a falta de uma campanha institucional sobre as eleições de novembro de 2023 é algo que, infelizmente, não nos surpreende, nem nos tira a motivação de demonstrar de forma clara os fatos graves em andamento.

Que a nossa categoria saia da arquibancada, da posição de simples observadora e assuma de vez a responsabilidade dessa hora histórica.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro e presidente da FerroFrente, Frente Nacional para a Volta das Ferrovias.

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