Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Advogado, jornalista e cientista político
Em meio à crise política que se instalou no Corinthians, urge levantar a voz em defesa do presidente Augusto Melo e, principalmente, da vontade soberana dos sócios que o elegeram. Não se trata apenas de um nome na cadeira presidencial, mas do respeito ao voto e aos princípios democráticos dentro do clube. O que está em curso é uma tentativa de destituição injusta, marcada por narrativas enganosas e articulações oportunistas que ameaçam trair a escolha feita pelas urnas corinthianas. Diante desse cenário turbulento, este manifesto conclama a torcida e os conselheiros a enxergarem a verdade por trás do processo de impeachment e a recusarem um golpe travestido de procedimento estatutário.
Protestos “a favor”? O duplo padrão midiático
Nos últimos dias, observamos manchetes e comentários tratando de “protestos a favor” do Corinthians, como se fossem manifestações genuinamente positivas. A mídia, ao enquadrar assim certos atos, cria um perigoso duplo padrão informativo. Ora, protestar a favor de algo é contradição em termos – na prática, esses supostos protestos “a favor do clube” nada mais são que protestos contra a atual gestão, embalados em linguagem que os faça parecer nobres e desinteressados. É um enquadramento midiático calculado para legitimar a insubordinação, fazendo parecer que quem agride a decisão das urnas o faz pelo bem do Corinthians. Enquanto isso, verdadeiros atos de apoio à continuidade do presidente eleito são minimizados ou rotulados pejorativamente. Essa inversão retórica mascara a realidade e confunde torcedores desavisados, convertendo uma campanha de desestabilização em suposta demonstração de amor ao clube. Não nos deixemos enganar: chamemos as coisas pelo nome certo – protestos orquestrados para derrubar um presidente eleito são protestos contra o Corinthians democrático, não em favor dele.
Aliança oportunista entre derrotados e dissidentes
Por trás do tumulto político atual, identifica-se claramente uma aliança oportunista unindo polos que deveriam estar em campos opostos. De um lado, os grupos derrotados nas últimas eleições internas – aqueles que representam a antiga ordem, rejeitada pelos sócios no pleito que levou Augusto Melo à presidência. De outro, parte da base eleita com Augusto que, por conveniências pessoais ou promessas de poder, virou a casaca e se juntou aos adversários de ontem. Essa coligação improvável entre oposição ressentida e dissidentes traidores do voto configura um conluio cujo único
objetivo é tomar o poder que não conquistaram nas urnas. Trata-se de uma jogada calculada: os que perderam democraticamente encontraram quem dentro da situação topasse rasgar o mandato popular em troca de vantagens – uma verdadeira facada nas costas do projeto de renovação que a torcida abraçou. É preciso denunciar esse pacto espúrio: aqueles que não conseguiram ganhar no voto agora tentam, junto com ex-aliados ambiciosos, alcançar no tapetão o que a maioria do clube lhes negou. A Fiel torcida não pode compactuar com essa trama de poder pelo poder.
Sem crime, só narrativa de caos
Um ponto central que precisa ser reafirmado com todas as letras: não há crime provado cometido por Augusto Melo. Não há desvio de recursos comprovado, nenhum ato ilícito demonstrado que justifique um impeachment. O que vemos são acusações vagas, insinuações e investigações em curso sem conclusão definitiva – elementos que estão sendo usados como arma política antes mesmo de qualquer comprovação cabal. Impeachment sem crime comprovado é injustiça, é fraude contra o associado que elegeu seu presidente.
Como então convencer conselheiros e torcedores a apoiar a destituição? Com a narrativa de um colapso fabricado. Estamos diante de uma clássica fabricação de consentimento: repetem-se à exaustão manchetes alarmistas, números fora de contexto e boatos maliciosos para pintar um panorama de caos absoluto no clube. Problemas pontuais são inflados como se fossem catástrofes insanáveis. Divergências administrativas naturais viram “fatores graves” em discursos apocalípticos. Essa campanha orquestrada pretende instalar o medo e a sensação de que “algo precisa ser feito urgentemente” – convenientemente, esse “algo” seria remover o presidente eleito. Trata-se de um colapso artificial, uma crise criada no imaginário popular por aqueles que têm muito a ganhar com a mudança de poder.
Máquinas de fake news e boatarias digitais também entraram em campo para manipular a percepção pública. Informações distorcidas circulam em redes sociais e grupos de mensagem, espalhando mentiras sobre a gestão Augusto Melo. Pequenos deslizes viram escândalos, medidas impopulares viram crimes imperdoáveis. É um bombardeio coordenado para minar a credibilidade do presidente e convencer os desavisados de que o Corinthians está à beira do abismo – quando na verdade o clube segue de pé, lutando e honrando seus compromissos. Não podemos cair nessa armadilha de narrativas: a verdade é que não existe nenhuma prova sólida de má gestão criminosa. O que existe é uma campanha de difamação para justificar o injustificável.
Feitos e bons serviços da gestão Augusto Melo
Antes de sermos arrastados definitivamente por essa cortina de fumaça, é essencial lembrar os feitos e serviços prestados pela gestão de Augusto Melo até agora. Em apenas um ano e meio de mandato, mesmo enfrentando resistências internas e a herança de problemas financeiros acumulados, Augusto Melo já mostrou a que veio. Sob sua liderança, o Corinthians recuperou competitividade em campo – prova disso foi a arrancada histórica de nove vitórias seguidas no Brasileirão 2024, que garantiu ao clube uma vaga na Libertadores de 2025. O time voltou a brigar na parte de cima da tabela e a
sonhar alto nas competições, algo que parecia distante no caos deixado pela antiga administração.
No âmbito administrativo, a gestão atual trabalhou para equacionar dívidas e recuperar a credibilidade financeira do clube. Pela primeira vez em anos, o Corinthians registrou receitas recordes e fechou o ano com um resultado operacional positivo, mostrando que é possível crescer de forma sustentável. Houve cortes de gastos supérfluos, profissionalização de departamentos e busca de novas fontes de receita. Mesmo com um déficit contábil ainda preocupante – fruto de dívidas antigas e investimentos necessários no futebol –, Augusto Melo honrou compromissos, manteve salários em dia e não mediu esforços para estabilizar as contas a longo prazo, preparando terreno para um futuro mais saudável.
Além disso, a atual gestão valorizou as categorias de base e o futebol feminino, setores onde o Corinthians tradicionalmente brilha e que continuaram recebendo apoio e estrutura. A proximidade com a torcida também merece destaque: Augusto Melo sempre esteve aberto ao diálogo, prestando esclarecimentos quando necessário e marcando presença junto à Fiel, num claro contraste com gestões distantes e pouco transparentes do passado. Em suma, há um legado positivo em construção – um legado que os artífices do impeachment preferem ignorar, pois contradiz a narrativa de terra arrasada que tentam impor.
Risco de retrocesso e arrependimento futuro
Devemos refletir seriamente sobre quem ganha com a eventual saída de Augusto Melo.Caso o impeachment se concretize, o Corinthians corre um grande risco de retrocesso: abrirá espaço para o retorno daqueles que foram rejeitados nas urnas, a antiga administração cujo modelo de gestão foi desaprovado pela maioria. A queda forçada de Augusto Melo nada mais é que o atalho que os representantes do velho status quo anseiam para retomar o controle sem passar pelo crivo do voto. Seria como entregar de bandeja o clube de volta a um grupo que governou por 17 anos, período em que se semearam muitas das dificuldades atuais. Esse cenário não é um “salvamento” do Corinthians, mas sim a restauração de um poder que o associado já havia deliberadamente afastado. Em nome de quê vamos permitir esse retorno pela porta dos fundos?
E aqui reside uma tragédia anunciada: aqueles que hoje forem convencidos a apoiar a destituição do presidente legitimamente eleito, achando que estão fazendo o melhor pelo clube, serão os primeiros a se sentir usados e enganados quando a poeira baixar. Quando perceberem que ajudaram a derrubar um projeto de renovação sem que houvesse crime algum, para entregar o Corinthians de volta aos braços de quem o levou à crise, o arrependimento falará alto. Os conselheiros e torcedores bem-intencionados que caírem na conversa dos golpistas logo entenderão que foram massa de manobra de um jogo político mesquinho. Verão que seus anseios legítimos por um Corinthians forte foram instrumentalizados por interesses particulares. E aí será tarde: o mal estará feito, e a frustração de ter sido manipulado se somará ao prejuízo de ver o clube retroceder. Evitemos esse desfecho enquanto é tempo – não sejamos cúmplices do próprio engano.
Respeito ao voto e consciência corinthiana
Chegamos ao momento decisivo em que é preciso invocar a consciência de cada corinthiano e de cada conselheiro. Acima de preferências pessoais ou pressões do momento, está em jogo o pacto democrático que mantém o Corinthians unido e fiel à sua história. O voto dos sócios é a expressão máxima da vontade da torcida no rumo do clube – uma conquista que não pode ser vilipendiada pela conveniência de alguns. Confiar no voto significa aceitar o resultado das urnas e dar ao presidente eleito a oportunidade de cumprir o mandato que lhe foi confiado. Romper esse pacto sem fundamento legítimo é abrir precedente para que nenhuma gestão eleita tenha estabilidade, é semear a insegurança institucional. Hoje é Augusto Melo o alvo; amanhã, qualquer outro presidente poderá ser derrubado se assim convier a grupos insatisfeitos, caso permitirmos que a vontade de uma minoria barulhenta se sobreponha à da maioria silenciosa que votou.
Defender Augusto Melo neste contexto não é idolatrar um indivíduo, e sim defender o Corinthians de uma manipulação perversa. É dizer não à mentira e ao medo como ferramentas de poder. É recusar a servidão voluntária – aquele estado em que um povo, enganado por falsos discursos, acaba servindo aos interesses de seus algozes. A torcida corinthiana, conhecida justamente por sua postura crítica e combativa, não pode se curvar a essa farsa. Temos a responsabilidade de separar fato de ficção, justiça de perseguição.
Conclamamos, portanto, cada conselheiro a pensar nas consequências de seu voto no impeachment. Conclamamos cada torcedor a refletir sobre quem se beneficia com toda essa instabilidade. Que cada um acorde para a realidade de que o Corinthians não pode ser tratado como tabuleiro de ambições pessoais. A verdadeira lealdade agora é com a democracia interna do clube e com o projeto que escolhemos nas urnas.
Não podemos permitir que uma manobra derrube o presidente sem causa real, cancelando a decisão legítima dos associados. Digamos em alto e bom som: não ao golpe travestido de impeachment! O Corinthians pertence à sua gente, não a meia dúzia de interessados em poder. Defendamos nossa história de lutas e conquistas honrando o voto e a confiança depositada.
Este é um chamado à razão e ao coração de todos os corinthianos. Ainda dá tempo de impedir que a paixão pelo clube seja explorada contra ele mesmo. Que a Fiel Torcida e os conselheiros mantenham-se fiéis, acima de tudo, àquilo que faz do Corinthians uma nação: a união, a justiça e a democracia. Sejamos dignos da nossa tradição e não nos deixemos enganar. Em defesa do Corinthians, da vontade das urnas e do futuro alvinegro, resistiremos a toda tentativa de manipulação. Não há conquista maior do que preservar a alma democrática do nosso clube.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.