CORINTHIANS DEMOCRACIA CONTESTADA

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Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Sócio do Corinthians desde 1982
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Corinthians é gente, é povo, é democracia, e isso incomoda, incomoda muita gente.

A decisão recente que proibiu a presença identificada da Gaviões da Fiel nos estádios paulistas provoca mais do que surpresa; provoca indignação. Embora o episódio de violência ocorrido no Bixiga tenha servido de justificativa formal para a punição, muitos torcedores percebem a medida como desproporcional e, sobretudo, influenciada por anos de desgaste público alimentado por setores da imprensa local. Assim, enquanto as autoridades apresentam a decisão como técnica, a percepção social aponta para algo mais profundo: uma tentativa de silenciar uma das torcidas mais populares e politicamente atuantes do Brasil.

A força histórica e social da Gaviões

Desde sua fundação, a Gaviões da Fiel sustenta uma identidade que extrapola o futebol. Portanto, quando a Federação Paulista de Futebol e o Ministério Público determinam uma punição que se estende até o fim de 2026, a consequência vai além do esporte. Afinal, nenhuma outra torcida no país demonstra tamanho engajamento, beleza e vibração. Essa presença não apenas impulsiona o Corinthians dentro de campo, mas também movimenta dimensões culturais e sociais que nenhuma sanção consegue apagar.

É igualmente importante lembrar que esta não é a primeira penalidade do ano. Assim, embora autoridades justifiquem a nova medida como resposta isolada a um confronto, o histórico de atritos institucionais e o desgaste midiático preparados ao longo de meses sugerem uma escalada que preocupa. Afinal, quando a punição se repete de forma mais rígida, a sensação de seletividade cresce em ritmo semelhante.

Democracia, memória e retaliação velada

Contudo, o elemento mais inquietante emerge quando se considera o papel que a torcida desempenhou em momentos críticos da vida nacional. Após as eleições de 2022, quando grupos extremistas bloquearam rodovias e organizaram atos antidemocráticos — segundo relatos amplamente divulgados por veículos jornalísticos — membros da Gaviões estiveram entre aqueles que ajudaram a desobstruir estradas e enfrentar tumultos provocados por manifestantes radicalizados. Esse protagonismo democrático marcou a história recente e, para muitos observadores, incomodou setores que prefeririam a apatia cidadã.

Por isso, ainda que não existam declarações oficiais indicando motivações políticas, a hipótese de retaliação indireta permanece viva no imaginário corinthiano. Afinal, Corinthians é gente, é povo, é democracia, e isso incomoda, incomoda muita gente, sobretudo quando esse povo resiste.

O peso simbólico desta punição

Agora, às vésperas de decisões importantes da Copa do Brasil, a ausência da torcida organizada significa mais do que arquibancadas menos coloridas. Significa retirar do Corinthians parte essencial de sua alma. Mesmo assim, o clube segue apoiado por milhões que reconhecem na Gaviões um componente legítimo da identidade corinthiana.

Quando a justiça falha na medida

Por fim, toda sanção precisa guardar proporcionalidade, equidade e responsabilidade histórica. Quando essas dimensões se perdem, perde também o futebol, perde a democracia e perde o povo que sustenta o espetáculo.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.

Declaração de Fontes:
As informações utilizadas neste artigo foram obtidas a partir de reportagens e dados públicos da Federação Paulista de Futebol, Ministério Público de São Paulo, Agência Brasil, Folha de S.Paulo e G1.

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