*Por Eng. José Manoel Ferreira Gonçalves
Análise da Recente Denúncia Contra o Governo Lula
A política, assim como a carreira de um artista, nem sempre termina em grande estilo. É comum vermos figuras públicas outrora relevantes se arrastando em um palco de irrelevância, buscando desesperadamente um último suspiro de atenção. São os galãs feios. No Brasil, um fenômeno peculiar tem se destacado: o esquerdista que nem é galã, só feio mesmo, que se torna direitista. São indivíduos que, após militarem na esquerda, migram para a direita e se transformam em figuras rancorosas, agarradas à nostalgia de um passado glorioso que jamais existiu. Ciro Gomes, eterno candidato derrotado à presidência, é o exemplo mais proeminente dessa metamorfose.
Acusações sem provas: a “denúncia” dos precatórios
Em 2 de março, Ciro Gomes, em entrevista à CNN, acusou o governo Lula de criar um esquema de venda de precatórios com deságio de até 50% para dois bancos não identificados. Sem apresentar provas, ele insinuou que o governo teria repassado informações privilegiadas para beneficiar instituições bancárias. A acusação, vaga e sem fundamento, foi prontamente acolhida pela bolha bolsonarista, ávida por qualquer narrativa que possa macular a imagem do governo Lula.
Entendendo o contexto: a PEC do Calote e o mercado de precatórios
Para entender a “denúncia” de Ciro, é necessário compreender o contexto dos precatórios. Precatórios são ordens judiciais para o pagamento de dívidas da União, estados ou municípios. Em 2022, o governo Bolsonaro, em uma manobra fiscal irresponsável, criou a PEC do Calote, que adiou o pagamento de mais de 90 bilhões em precatórios. O governo Lula reverteu essa decisão e anunciou que honraria os precatórios. No entanto, antes de receber, o credor pode negociar um adiantamento com desconto em instituições bancárias. Essa prática, embora imoral, é legal e expõe a morosidade do sistema judicial brasileiro.
A “denúncia” de Ciro: oportunismo político e desinformação
Ciro Gomes, ao invés de criticar a imoralidade do mercado de precatórios, preferiu lançar acusações infundadas contra o governo Lula. Ao sugerir que o governo vendeu precatórios diretamente para bancos, ele demonstra desconhecimento do processo. A “denúncia” parece ter como objetivo principal angariar o apoio do eleitorado bolsonarista órfão, que busca um candidato com a mesma postura beligerante de Bolsonaro.
Ciro e a extrema direita: um flerte fadado ao fracasso
A estratégia de Ciro Gomes de se aproximar da extrema direita através do antipetismo é, no mínimo, questionável. Ele parece ignorar que, dentro desse grupo, é visto como um “comunista” próximo a Lula. Ciro pode até conseguir algum espaço na bolha bolsonarista, mas dificilmente será visto como um candidato viável. Seu destino, provavelmente, será o mesmo de outros políticos que tentaram surfar na onda do bolsonarismo: o ostracismo político.
Um triste fim de carreira
É lamentável ver um político como Ciro Gomes se prestar ao papel de cabo eleitoral do bolsonarismo. Sua “denúncia” sem provas e sua tentativa de se associar à extrema direita demonstram desespero e falta de princípios. Ciro, ao que tudo indica, depois de pular de partido em partido e por fim afundar o PDT, está fadado a terminar sua carreira política como um cover de si mesmo, lamentando a perda de relevância e buscando migalhas de atenção em palcos cada vez mais escassos e obscuros.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a Prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA.
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Fontes:
Entrevista de Ciro Gomes à CNN em 02/03/2023
Vídeo de Ciro Gomes em sua newsletter em 05/03/2023
Vídeo do canal Galãs Feios, com Helder Maldonado
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