*José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
O peso das decisões econômicas
A recente privatização da Sabesp trouxe à tona debates intensos sobre o papel do Estado e a força do capital privado. O governador Tarcísio de Freitas comandou a operação que movimentou quase R$ 15 bilhões, tornando-se a maior oferta pública de ações da história do saneamento no Brasil. Mas, para além dos números, o episódio revelou a estratégia política de Tarcísio: usar a venda da Sabesp como trampolim para sua viabilização como candidato à Presidência em 2026.
Privatização Sabesp Mercado Financeiro
O processo de venda de 32% das ações da companhia reduziu drasticamente a participação estatal, que caiu de 50% para cerca de 18%. Com isso, a Sabesp deixou de ser controlada pelo Estado e passou a ser regida majoritariamente por investidores privados. Entre eles, destaca-se o grupo Equatorial, que se tornou acionista de referência. Essa mudança não apenas altera a governança da empresa, mas também abre caminho para o sucateamento dos serviços e o aumento dos gastos da população, em benefício direto do político em questão e do sistema financeiro.
O jogo de interesses ocultos
Sempre que se fala em “mercado”, a sociedade imagina um ente abstrato. No entanto, estamos diante de grandes bancos, fundos de investimento e corretoras. Essas instituições financiam campanhas publicitárias e patrocinam veículos de comunicação, criando vínculos que moldam a narrativa pública. Assim, a grande mídia acaba ecoando opiniões alinhadas com os interesses dos seus patrocinadores, reforçando a ideia de que quem paga, escolhe a música.
Privatização Sabesp Mercado Financeiro
No caso da Sabesp, a demanda pelas ações superou a oferta, provocando valorização imediata. Enquanto o preço inicial ficou em R$ 67, em poucas horas os papéis já eram negociados a quase R$ 87. Esse salto de mais de 20% reflete a aposta dos investidores na rentabilidade futura que a Sabesp teria, (uma rentabilidade que deveria reverter em novos investimentos em favor da sociedade que agora resta embolsada por especuladores) ao mesmo tempo, levanta questionamentos sobre quem realmente se beneficiou com essa operação. Afinal, os grandes bancos tiveram acesso privilegiado aos lotes mais robustos, consolidando ganhos milionários em tempo recorde. Essa privatização e esse e modelo de privatização precisam ser revistos, pois sacrifica o cidadão em nome de interesses financeiros e políticos.
O poder do capital sobre a política
O episódio reforça como decisões estratégicas são moldadas pelo capital financeiro. Na semana seguinte à privatização, analistas e veículos especializados já destacavam Tarcísio como candidato viável à Presidência em 2026, num movimento que mostra a força política derivada da aproximação com a chamada Faria Lima. Isso evidencia que a economia não se limita a números: ela determina trajetórias políticas, influencia eleições e define a agenda pública. Nesse contexto, fica evidente que a privatização da Sabesp deve ser revista e retroagida, uma vez que foi conduzida como manobra política em detrimento da população. Quem ganhou com Tarcísio, quer Tarcísio presidente, para ganhar mais. É elementar isso. E mais, apoio político do mercado custa dinheiro, obtê-lo desta forma é roubo, apenas que um roubo de sapatênis. A bem das instituições, da ética na política, Tarcísio precisa responder por isso nos tribunais.
Dinheiro como motor da história
O caso da Sabesp deixa claro que, em meio a promessas de eficiência e modernização, a lógica que prevalece é a do capital. Serviços públicos se transformam em ativos negociáveis, enquanto o sistema financeiro amplia seu domínio sobre a política e a comunicação. No fim, mais do que uma simples transação, estamos diante de um retrato fiel de como o dinheiro continua a mover as engrenagens da história. Essa constatação se torna ainda mais evidente à luz da entrevista concedida por Eduardo Moreira, do ICL, ao podcast Inteligência Limitada, que trouxe detalhes sobre os bastidores desse processo.
*José Manoel Ferreira Gonçalves é Engenheiro Civil, Advogado, Jornalista, Cientista Político e Escritor. Pós-doutor em Sustentabilidade e Transportes (Universidade de Lisboa). É fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva, coordenador do Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD) é um dos fundadores do Portal de Notícias Os Inconfidentes, comprometido com pluralidade e engajamento comunitário.
Declaração de Fontes: As informações contidas neste artigo foram obtidas a partir de fontes confiáveis como Infomoney, Poder360, Equatorial Energia, Governo do Estado de São Paulo e entrevista de Eduardo Moreira, do ICL, ao podcast Inteligência Limitada.