José Manoel Ferreira Gonçalves
Engenheiro, advogado e jornalista
Torcedora e torcedor do Corinthians,
O momento eleitoral do nosso clube é decisivo. Estamos no dia da escolha que definirá os rumos do Corinthians, e muitas promessas têm sido lançadas ao vento – promessas de investimentos fáceis e soluções quase milagrosas. É natural que a nossa imensa Fiel se encha de esperança diante de anúncios grandiosos, mas é preciso atenção e senso crítico. Quem pretende gerir o Corinthians deve ter uma trajetória limpa e comprovada, sobretudo quando se apresenta como “homem das finanças”. Transparência não pode ser apenas promessa de campanha; tem que ser prática comprovada no dia a dia.
Nos últimos tempos, vimos surgir discursos sedutores falando em fortunas estrangeiras e parcerias salvadoras. Teve candidato prometendo aporte bilionário de um “banco mágico”, afirmando ter um grupo disposto a investir 1 bilhão de dólares (cerca de R$ 5,5 bilhões) no clube. Mas precisamos questionar: onde já se viu dinheiro cair do céu sem contrapartida? Nossa realidade financeira não desaparece com palavras. Hoje, as demonstrações financeiras do clube mostram uma dívida bruta na casa de R$ 2,5 bilhões – um fardo enorme construído ao longo de gestões e desafios. Resolver isso exige trabalho sério, planejamento e honestidade, não bravatas. Portanto, não nos deixemos encantar por promessas que parecem boas demais para ser verdade.
Nossa torcida é a maior força do Corinthians. É apaixonada, vibrante e fiel – acompanha o time na alegria e na dor, lota a Neo Química Arena mesmo em fases difíceis, canta até o apito final. Justamente por esse amor incondicional, também podemos ser alvo de narrativas fáceis. Alguns discursos tentam explorar nossa paixão, mas precisamos mostrar que paixão não é cegueira. Novamente: não nos deixemos enganar por conversas macias ou slogans de efeito. Perguntem sempre, reflitam sempre. Quem promete maravilhas, tem realmente condições de cumprir? Quem fala em entrar dinheiro, mostra claramente de onde ele vem e como será aplicado? Quais as garantias de que esses planos sairão do papel e não são apenas fantasia eleitorais?
Para ajudar nessa reflexão, vale sempre considerar algumas perguntas fundamentais antes de comprar um discurso eleitoral:
- De onde virá o dinheiro prometido? Há transparência sobre a origem desses recursos ou parceiros?
- Quais são as condições e contrapartidas do investimento? Nada vem de graça – é empréstimo, é venda de ativo, é aumento de dívida? Precisamos saber.
- O candidato tem histórico e competência comprovada? Sua trajetória passada no clube e fora dele indica capacidade de realizar o que diz? Seu nome está limpo de escândalos e irregularidades?
- A transparência é real ou apenas promessa? O postulante apresenta práticas já adotadas de gestão transparente (publicação de balanços claros, conselhos fiscalizando, decisões abertas) ou só fala em transparência sem mostrar atos?
Essas perguntas são o mínimo. É nosso direito – diria mais, nosso dever – como torcedores cobrar esclarecimentos. Quem fala em dinheiro fácil precisa mostrar fatos, contratos, fontes. Quem promete mundos e fundos tem que abrir as contas e provar que não são castelos de areia. Lembremos que milagres financeiros não existem; se alguém oferece uma solução mágica, desconfie. O Corinthians não pode se dar ao luxo de entrar em aventuras baseadas em PowerPoints bonitos e pouca substância.
Uma coisa é certa: o Corinthians é maior do que qualquer candidatura ou candidato individual. Nossa instituição centenária já enfrentou todo tipo de batalha dentro e fora de campo, e sobreviveu graças à sua grandeza e à união de seus verdadeiros fiéis. O dirigente que assumir o clube precisa estar comprometido com a história e a dignidade do Timão, honrando cada capítulo construído com suor e amor ao longo de mais de 100 anos.
Essa história inclui momentos únicos de coragem e participação coletiva – como a nos anos 1980, quando jogadores, comissão e funcionários tomavam decisões juntos, num movimento revolucionário em prol da transparência e do direito de voz dentro do clube. Esse legado nos lembra que o Corinthians sempre pertenceu ao seu povo, e que as melhores decisões vêm da participação honesta de todos, não de salvadores da pátria com promessas vazias. O Corinthians nasceu do povo e cresceu pela força da sua gente; nenhum dirigente, por mais poderoso que pareça, pode esquecer disso. Portanto, quem almeja liderar o clube precisa respeitar essa essência popular, agindo com verdade e responsabilidade.
Torcida corintiana, fique atenta. Nos últimos dias muito foi dito, muito foi prometido. Ocorrerão pressões e tentativas de dividir a torcida em facções políticas, mas não percamos o foco: o amor ao Corinthians não pode ser manipulado. Não podemos permitir que usem nossa paixão como moeda de troca ou escudo para projetos pessoais obscuros. Sejamos exigentes com aqueles que querem nosso voto de confiança: peçamos planos detalhados, cobremos explicações, fiscalizemos ações. A vitória do Corinthians – a verdadeira vitória – virá quando tivermos dirigentes sérios, competentes e transparentes, que tratem o clube com o respeito que ele merece.
Corinthians acima de tudo, sempre. Nossa união e espírito crítico serão decisivos para blindar o clube de aventureiros e oportunistas. Pelo Sport Club Corinthians Paulista, queremos não apenas palavras bonitas, mas trabalho, caráter e resultados concretos. E que os membros do Conselho Deliberativo, ao votarem no dia de hoje, tenham plena consciência do momento histórico que vivemos e dos desafios do futuro.
Corinthians sempre!
Mensagem de um corinthiano preocupado, em prol de um Corinthians mais forte e transparente.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.