A Ascensão da Ultradireita na Europa: Sinal de Tempos Tumultuados

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Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Pré-candidato a prefeito do Guarujá pelo PSol

As Eleições Europeias e o Crescimento da Extrema-Direita

As eleições para o Parlamento Europeu de 2024 evidenciaram um fenômeno que vem preocupando analistas políticos e sociais em todo o continente: o avanço significativo das forças de direita e extrema-direita. A tradicional hegemonia do Partido Popular Europeu (EPP), que obteve 189 assentos, foi mantida, mas a ascensão de outras forças políticas, em especial as de caráter nacionalista e populista, acendeu um alerta sobre a fragilidade do consenso europeu.

A Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), com 135 assentos, ocupa a segunda posição, demonstrando um declínio em relação às eleições anteriores. O grupo Renew Europe, com 83 assentos, e os Verdes/Aliança Livre Europeia, com 53 assentos, também registraram resultados expressivos, embora não tenham conseguido alcançar a magnitude dos dois maiores grupos.

No entanto, o que chama atenção é o crescimento dos grupos de direita e extrema-direita. Os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), com 72 assentos, e o grupo Identidade e Democracia (ID), com 58 assentos, se consolidaram como forças importantes dentro do Parlamento Europeu, impulsionados por discursos anti-imigração, anti-europeísmo e uma retórica populista que encontrou eco em diversos países.

A França e a Ascensão do Rassemblement National

A França, país tradicionalmente marcado por um forte debate político, se tornou um dos principais epicentros da ascensão da extrema-direita. O partido Rassemblement National, liderado por Marine Le Pen, conquistou uma vitória histórica nas eleições europeias, obtendo 31,5% dos votos. Essa performance inédita culminou na dissolução do parlamento francês pelo presidente Emmanuel Macron, numa tentativa de frear o avanço da extrema-direita e reconquistar o controle político do país.

A ascensão do Rassemblement National se deve, em grande parte, à crescente insatisfação da população francesa com as políticas de Macron, consideradas por muitos como elitistas e descoladas da realidade social. A crise econômica, a ascensão da criminalidade e a percepção de que a União Europeia não responde às demandas da população francesa também contribuíram para o crescimento do discurso nacionalista e anti-imigração de Marine Le Pen.

A Alemanha e a Ameaça da AfD

Na Alemanha, a tradicional hegemonia da União Democrata Cristã (CDU/CSU) se manteve, mas o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) alcançou um resultado histórico, superando o Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz. A AfD, conhecida por suas posições anti-imigração, anti-islã e eurocéticas, conquistou um número significativo de votos, revelando um sentimento de insatisfação com as políticas do governo e uma crescente polarização política no país.

A ascensão da AfD é um sintoma da profunda crise que atravessa a sociedade alemã. A crise migratória de 2015, o aumento da desigualdade social e a percepção de que a União Europeia não está a altura dos desafios do século XXI contribuíram para o crescimento do discurso anti-imigração e nacionalista da AfD.

As Raízes do Crescimento da Direita

A ascensão da direita e extrema-direita na Europa é um fenômeno complexo com raízes profundas na sociedade europeia. A crise econômica de 2008, as políticas de austeridade implementadas em diversos países, o aumento da desigualdade social e a crise migratória de 2015 criaram um caldo de cultura propício à disseminação de discursos de ódio, xenofobia e populismo.

A desilusão com as elites políticas, a sensação de perda de controle sobre o futuro e a crescente fragmentação social também contribuíram para o crescimento da direita. A falta de respostas eficazes por parte dos governos e instituições europeias para os desafios contemporâneos abriu espaço para a ascensão de líderes carismáticos e populistas que exploram o sentimento de medo e insegurança da população.

Os Desafios para a Europa

O avanço da direita e extrema-direita na Europa coloca em xeque o futuro da União Europeia. A fragmentação política, o crescimento do nacionalismo e o ressurgimento de discursos de ódio ameaçam os pilares da integração europeia, como a democracia, os direitos humanos e o estado de direito.

A União Europeia precisa encontrar formas de responder aos desafios contemporâneos de forma eficaz e justa. As políticas de austeridade, a falta de investimento em políticas sociais e o descolamento das elites políticas da realidade social precisam ser revistos. A UE precisa se mostrar capaz de proteger seus cidadãos, garantir um futuro próspero e assegurar a justiça social.

A ascensão da direita e extrema-direita na Europa é um sinal de alerta para o futuro do continente. A fragilidade do consenso europeu, a crescente polarização política e o ressurgimento de discursos de ódio exigem uma resposta urgente e eficaz. A UE precisa se reinventar para enfrentar os desafios do século XXI, garantir a justiça social, proteger seus cidadãos e promover um futuro próspero para todos. Espero que nossas lideranças, do governo e da oposição conversável e consciente, estejam atentas, e que as forças do mal que temos dentro do país não se assanhem demasiado.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. É pré-canditado a prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, AGUAVIVA, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS PLANETA.

Fontes de dados:

  • 2024 European election results
  • POLITICO
  • DW

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