O que a engenharia pode fazer para ajudar a vida das pessoas

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José Manoel Ferreira Gonçalves

A engenharia é a artífice dos maiores projetos de desenvolvimento no país. De Itaipu aos modernos caças da Embraer, as contribuições de nossa categoria são evidentes e inequívocas. Mas, ao abordar a engenharia com essa visão grandiosa, talvez nós deixemos de nos atentar para as contribuições não menos valiosas que ela pode trazer para o dia a dia, para o cotidiano das pessoas. Inclusão digital, defesa do meio ambiente e também a conscientização política são apenas algumas dessas contribuições.

O engenheiro, por natureza, tem um poder de articulação que deve ser colocado à disposição da comunidade. Um exemplo que posso adiantar a todos é o que está sendo construído no litoral paulista, a partir da estruturação de uma associação, a Aguaviva, que nasceu com o propósito de reunir diversas entidades representativas da população do Guarujá.

Nós, engenheiros envolvidos com a iniciativa, participamos ativamente das propostas e reivindicações locais. Trazemos para a discussão o entendimento sobre documentos que exigem análises relativamente complexas, como o Plano Diretor da cidade, as leis de defesa ambiental e outros regramentos públicos que, na maioria das vezes, escapam aos olhos da maioria.

Dessa troca de experiências, de conhecimento técnico e das demandas populares, surgem projetos como a estruturação de uma universidade virtual, que já conta com seis parceiros, e que vai oferecer cursos livres e gratuitos, na modalidade EAD – Educação a distância, às pessoas da comunidade. Inicialmente, as qualificações disponíveis serão focadas em educação para o meio ambiente, educação para cidadania e educação para política. Sim, política.

É fundamental levar a conscientização política aos jovens, falar diretamente com eles sobre cidadania, direitos e deveres, bem como a necessidade de participar das decisões políticas que vão interferir diretamente na vida de todos. Acredito na educação política como instrumento de desenvolvimento social. Precisamos conscientizar, de forma gradual e contínua, os jovens do ensino médio e das universidades sobre a importância de se fazer representar por meio das instituições políticas. Devemos remover a impressão, que muitas vezes se transforma em convicção, de que na política só existem pessoas mal intencionadas. Por causa dessa visão, os jovens se colocam como apolíticos. Temos que acabar com essa apatia e desinteresse pela discussão política.

Os jovens e o futuro estão no centro das atenções. Queremos desenvolver, a partir da Aguaviva, um polo de desenvolvimento tecnológico, a fim de apoiar a ciência, a tecnologia e a pesquisa na Baixada Santista, para o desenvolvimento da pesca, do turismo sustentável e da indústria naval não poluente. Seremos um polo de disseminação de conhecimento, em parceria com as universidades que já são referência em suas respectivas áreas.

O engenheiro que se dispuser a olhar ao redor vai encontrar, certamente, muitas motivações que merecem o seu engajamento. Alguns exemplos:

– projetos de inclusão digital dedicados a crianças em situação de vulnerabilidade, para que estas possam ter acesso à internet de qualidade e de forma gratuita, evitando assim que elas interrompam seus estudos.

– campanhas e projetos em favor da saúde pública, hoje abalada pela pandemia mundial, cujo combate não recebeu a devida atenção do governo federal (vejam o exemplo do pessoal da engenharia da USP, que desenvolveu respiradores de baixo custo em tempo recorde e colocou a tecnologia a serviço das autoridades).

– a mobilização em defesa da preservação de áreas verdes e reservas ambientais, contra o desmatamento, a poluição de rios e mananciais, a especulação imobiliária e a degradação urbana.

– o alerta contra construções que representem risco à segurança pública e ao bem-estar da população

– a luta pela mobilidade e por um transporte público digno, acessível e de qualidade.

– a disseminação de tecnologias limpas, energia renovável e práticas sustentáveis, entre as empresas e as comunidades locais.

– a defesa de uma infraestrutura que promove condições mínimas de saneamento básico, coleta e reciclagem de lixo.

– a preservação do patrimônio histórico e da memória da engenharia.

Enfim, são apenas algumas das possibilidades que estão ao alcance do engenheiro que estiver munido de liderança, vontade e disposição para observar e ouvir as demandas populares e se envolver com as causas públicas.

O engenheiro e a engenharia, sozinhos, são apenas mais um segmento social que cumpre com seu papel, deveras importante, aliás, no desenvolvimento econômico da nação. Porém, em contato com o povo, com o cidadão, nosso conhecimento e potencial crescem e se manifestam de maneira muito destacada na construção do futuro que desejamos para este país.

O capital sozinho não faz nada. Só o trabalho e o engajamento colocam o capital de uma maneira que ele funcione.

 

José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, integrante do Movimento Engenheiros pela Democracia, presidente do PDT de Guarujá, presidente da Ferrofrente e presidente da AGUAVIVA – Associação Guarujá Viva.

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